quinta-feira, 5 de março de 2009

Pós-Guerra de mim


Tenho razões para ser eu mesmo
Ser folha em branco ou tinta nanquim
Desmedido por natureza
Desmentido até ao fim.

Tenho provas suficientes
Para querer com furor
Para morrer de amor
Para sonhar com rigor.

Tenho dias de paz
E dias de guerra
Tenho demônios na mente
E anjos à minha espera.

(Paulo Avila)

Casualidades


Durmo tarde e acordo cedo,
cansado de mim e de tudo que me deixa desanimado.
Tenho crises de melancolia crônica
e transpiro mais que o normal à noite.

Acho que vou morrer a qualquer hora,
acho que vou ter que trabalhar muito mais
para ter que pagar todas as minhas dívidas.
Acho que o futuro não existe,
mas existem as possibilidades que criamos ou desperdiçamos
e chamamos de destino.

Nunca sei quando vai chover,
nunca sei quando meu espírito está ensolarado
pois me acostumei às trevas que visitam a minha vida.

Mas é só de vez em quando:
Tenho dias floridos e noites serenas,
tenho um amor que me dá tranquilidade e esperanças,
tenho uma vida inteira para viver.

Até quando? Não sei.
Apenas continuo vivendo até quando puder.

(Paulo Avila)

terça-feira, 3 de março de 2009

Despertar


Gritei
no fundo do meu silêncio.

A poesia,
como torrente,
tempestade,
vendaval
acordou em mim.

Ressuscitei na quaresma.

(Paulo Avila)

Jazigo


Descansei à sombra de um sonho,
desperto,
com um sorriso triste.

Tudo se foi,
tudo deixou marcas:
todo desgosto
e as promessas tristes
impossíveis de cumprir.

Um fato
destruído,
mutilado,
abandonado,
aprisionado.

Um aceno
que se vai pelo tempo
reprimido,
acotovela-se
por entre uma platéia
sedenta de sangue.

Afinal, morri
mas ainda me sinto quase vivo.

(aqui jaz o sonho irrealizável)

(Paulo Avila)

Caminho solitário


Cai a sombra sobre mim
e meus olhos marejados de lágrimas
são o meu único consolo.

O vento sopra suas histórias tristes
como um doce lamento,
enquanto a vida produz mazelas
à luz do dia.

Somente dúvidas e lamentos.
Pela estrada, ando cabisbaixo
à procura de algo
que ainda não sei.

À procura de mim
e dos sonhos que lancei fora
sem motivo aparente.

Destinado à dor
seguirei o destino que escolhi
enquanto flores murchas pelo caminho
serão o meu jardim.
(Paulo Avila)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Nem alegre nem triste: poeta

Ser poeta, na verdade, é uma exigência do coração. Está acima do bem e do mal, da razão e da emoção, da vida e da morte, da alegria e da tristeza. É um outro estado da alma. Estado de graça, de dúvida, de anseios, de interiorização, de sonhos, de acordar.

Cecília Meireles compôs o poema “Motivo”, que fala sobre o sentimento de ser poeta:

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Talvez o poema seja realmente um canto: indefinível, inexplicável, às vezes bem próximo de nós, outras vezes bem distante, que somente as almas mais sensíveis podem compreender. Mais nada.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Felicidade do Poeta sem inspiração


Acho quer perdi a inspiração.

Tenho tentado escrever poemas, mas nada me deixa satisfeito. Desfaço-me de todos os rascunhos, de todos os esboços. Às vezes não consigo nem mesmo formular um verso que me faça feliz.

Acho que não sou mais poeta... No poema “A um passarinho”, Vinícius de Moraes disse:

“Não sou mais poeta / Ando tão feliz!”

Eu me sinto assim. Ando feliz com a minha vida, estou casado, amo e sou amado, tenho meus amigos... Estar feliz parece não ser uma característica para quem escreve versos. Para se escrever é preciso entrar em contato com a dor mais íntima, pois todo poeta se expressa através do sofrimento, da introspecção e da solidão da alma.

Preciso me sentir pelo menos um pouco triste para voltar a escrever. Mas poderei eu abrir mão desse sentimento por causa da poesia? Será que o preço de encontrar o amor é perder o dom de escrever? Será que a musa, quando tocada e tirada do pedestal santo, tira-nos – em troca do coração – a poesia?

Sei apenas que amo e sou amado, e o dom de poetar fugiu de mim.

Para sempre? Não sei.

Aguardarei.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Germinando

Quantas flores pelo chão!

Acaso, coincidência ou foi a minha vida que floriu da noite para o dia?

Havia sementes, decerto... Sementes que cresciam sem que eu percebesse, na hora do sono. Hoje já sinto o perfume suave, as cores são mais nítidas e há beleza à minha volta.

A vida é um milagre... Um grande milagre.

E pensar que quase a joguei fora... Teria perdido a grande chance de ver o tempo da vida germinar. A minha vida germinar...

Ação - Reflexão - Individualidade


Já falei demais na hora errada e me calei quando deveria falar.

Na verdade, a vida é feita de momentos decisivos na nossa vida, e deixar algo por fazer pode ser um grande erro. “A primeira vez é sempre a última chance”, cantou Renato Russo em “O Teatro dos Vampiros”.

Às vezes fico tempo demais pensando qual a hora certa de agir. Talvez seja agora, amanhã... Não sei.

Fazer o nosso tempo é tarefa apenas nossa. Quando falam demais como devemos agir e nos comportar, acabamos não dando atenção ao nosso coração, fazemos o que os outros querem e ficamos frustrados por algo que poderia (ou não) ter acontecido ou que não aconteceu como esperávamos.

Conselheiros, conselheiros... não sei por que existem. Claro que alguém que passou por um caminho escuro e sem saída, ao retornar pode encontrar com outra pessoa e dizer: “Não vá por aí, não há saída e é muito escuro”. Mas pode ser que esta pessoa tenha uma lanterna e encontre um caminho escondido. Cada um tem suas próprias experiências à medida que vai vivendo, que vai caminhando... Cada um aprende consigo mesmo (e também convivendo com os outros, pois não somos ilhas), acerta e erra e cresce de alguma forma.

Hoje me basta refletir; é uma outra forma de ação.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Esperança em meio aos escombros

A bandeira do amor hasteada... Em vão para muitos que já perderam o coração.

Pedras no lugar de sentimentos, corações esmagados pelo caminho.

Lágrimas e suor, tristeza e pesar. Todos precisam de um sentido para viver, para permanecer lutando.

Lutando contra quem? Contra quê?

Talvez contra nós mesmos, contra nossos medos, pesares e fantasmas de um passado nostálgico impossível de voltar.

Às vezes um grito que ninguém escuta. Outras vezes um choro seco, sem emoção.

Uma igreja derrubada, mãos de Deus sem poder, vidas inúteis celebram o nada. E perguntam: onde enterraram a fé? Talvez em algum hospício, num cemitério de lembranças utópicas.

Misericórdia é o que pedem. Misericórdia... Multidão de surdos falantes com olhos vendados.

Não ouço, não falo, não vejo mais nada.

O mundo quer morrer.

Mas a bandeira permanece hasteada.