quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Quero vida


No meio de tanta desgraça, quero amor.

Se isso ao menos não for possível, quero então o silêncio, o fim da agressão psicológica e das acusações desnecessárias de quem deseja se eximir de culpa.

Sim, quero silêncio e sono - nada mais...

Fechar os olhos é conhecer-se por dentro; abrir feridas é necessário quando se quer encontrar um caminho.

Quero amor, mesmo que amanhã o dia seja cinza, melancólico e sem vida. Mesmo que as pessoas não se olhem mais nos olhos, quero ao menos um sorriso de soslaio, um afeto, uma flor, uma fresta de sol por entre as nuvens carregadas.

Quero vida.

Nosso belo mundo


Não espere demais.

Depois da tempestade vêm os mortos e feridos.

Favelasassassinosalienação... cartão-postal do Brasil.

Massa muda miserável x corruptos impunes.

Adeus. Vou sumir daqui.

(Mais uma bala perdida, mais um morto encontrado, mais uma criança estuprada, mais um assassino perdoado – Direitos Humanos, pelo amor de Deus, Direitos Humanos para essa alma de Deus, respeitem o dom da vida! Converta-se ao Evangelho, fique de joelhos, esqueça seu passado, batizado, seu condenado! Fodam-se as famílias das vítimas. Aquele homem pervertido não existe mais – vá para a Igreja, vá para o céu, vá para qualquer lugar, vá levar a salvação aos seus irmãos enquanto os que não se arrependem vão para o fogo do inferno. Deus te ama e eu também, tudo posso naquele que me enriquece e me fortalece. Ore antes de dormir, ore ao acordar, ore por quem você matou, ore por quem não te perdoou, ore por um mundo melhor, ore para não cair novamente em tentação. Aquela menina até que é atraente: vou convertê-la. Aleluia, irmãos, aleluia! Mais uma alma fodida!)

Belo mundo o nosso...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

As desgraças alheias, a comoção nacional e os indiferentes em marcha


O homem estava deitado de bruços no chão e ninguém o ajudou. Tossia de quando em quando e a turba de indiferentes caminhava despreocupada como se ele não existisse. Parecia que ele não era um ser humano: algo como um entulho que obstrui o caminho. Muitos pulavam por cima dele e seguiam para o seu mundo estúpido, com o seu individualismo exacerbado, com o seu egocentrismo incomensurável.

Fiquei pensando: A desgraça dos outros não parece real para a gente, não parece tampouco digna de piedade.

O mundo acostumou-se a ter comoção pelo sofrimento alheio somente quando este é amplamente divulgado na mídia. Vítimas que aparecem na televisão são mais que vítimas: viram celebridades, mitos.

Já um desconhecido sem rosto e sem nome na rua ao nosso lado é algo pequeno e anônimo demais para se prestar ao trabalho de nos incomodar.

“Sua desgraça ainda não passou na televisão? Ele não se tornou famoso? Não passou na Rede Globo? Então não me interessa!” – parece um inconsciente coletivo sádico demais para minha sensibilidade.

Na verdade, sinto-me tão sujo quantos aos indiferentes sem alma e sem coração: vi, parei e pensei em fazer algo. Sei lá, qualquer coisa... Abraçá-lo, socorrê-lo, tentar levantá-lo, pedir ajuda. Mas a minha imobilidade e a minha falta de ação foram mais fortes do que a minha compaixão. Fui embora. As palavras indignadas que sempre escrevo não me servem para nada. Nunca serviram para nada e nem para ninguém.

E assim contribuí com um mundo pior. Infelizmente...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Retorno

Retornei hoje ao trabalho.

Sinto-me mais cansado e mais desanimado do que antes.

Queria sumir, fazer qualquer coisa que pudesse me deixar tranqüilo, sem pensar em nada que pudesse me aborrecer.

Quero ser algo que me dê orgulho, que não me faça arrepender de quem eu sou.

Talvez assim eu me sentiria mais feliz....