Novas possiblidades.
Cansado.
Estou em greve das palavras.
Desconectado.
Voltarei na segunda-feira.
Adeus.
Escrever... Gritar em silêncio. Pensar em sentidos. Transfigurar desejos. Amar. Estar só. Possibilidade da linguagem. Polissemia. Calar o tempo, revitalizar o sonho. Acordar e manter os olhos fechados. Esperar. Esperançar. Expandir. Crescer. Ser único, múltiplo indivizível. Pragmatizar. Intuir. Despetalar sentimentos. Sentir os sentidos. Calar e consentir. Insurgir-se. Devanear. Coração e mente. Mundos e desmundos. Escrever, apenas...
Ass.: Um alguém desconhecido qualquer, um ninguém sem passado, sem presente, sem futuro, mas que ainda sonha, apesar de viver o pesadelo real da vida.
Coloquemos a mão na consciência: quantas vezes já dissemos isso hoje? E nessa semana? E na semana passada? E nesse mês? E no mês passado? E durante esse ano? E durante toda a nossa vida?
Se você perdeu a conta de quantas vezes já usou essas expressões (com sinceridade e espontaneidade, não como mero formalismo), meus parabéns: você ainda sente num mundo que já se desacostumou a sentir e a se preocupar com o outro.
Se você coçou a cabeça e ficou tentando lembrar (buscando no fundo do baú esquecido da memória) a última vez que usou alguma gentileza ou se preocupou com o bem-estar do outro, alarme-se, preocupe-se: você está sendo cada vez mais consumido pelo mundo ultra-individualista e competitivo, que o faz pensar que o mundo está contra você e é preciso eliminar inimigos para ser feliz e vencer na vida.
Precisamos uns dos outros, precisamos criar laços de amizade, aproveitando ao máximo os momentos com as pessoas que amamos, olhando o outro nos olhos como alguém que também sente e precisa de carinho, de atenção, de cuidados especiais.
Nossa subjetividade também é muito importante, mas não podemos nos esquecer da riqueza do outro. Eu me torno uma pessoa melhor na medida em que me relaciono com o outro, deixando um pouco de mim com ele e levando um pouco dele em mim. Só aprendemos e ensinamos em comunhão com o outro.
Talvez um dia acordemos para a necessidade que temos uns dos outros.
DESTITUÍDOS
Antes era o nada.
Agora o nada nem mais existe.
Em mim pouco menos que o vazio
e o desejo ignoto de ser parte de um todo,
parte da humanidade,
parte dos cacos,
parte de nada.
Amanhã, talvez,
renasçam sonhos,
esperanças,
expectativas,
sociedades e filantropia.
Mas hoje só existe o aborto que é a vida,
o terrível engano de existir,
a tragédia dos doentes,
a farsa dos poderosos,
os cães e as crianças que farejam lixo.
Pessimismo é a palavra que me traduz hoje.
E com o pessimismo a vontade de nunca mais existir,
de regredir ao útero e descansar.
Ser sombra e não ser notado,
espectro doentio e ignóbil
no silêncio do porvir,
na quimera morta,
na irressurreiçao dos mortos.
Cega-me com as trevas;
emudece-me com as palavras soltas e bastardas;
promove meu declínio, minha falta de paz;
escraviza-me, mutila-me para sempre.
Estarei feliz assim.
(12/03/2008)
Por isso preciso escrever...
Quem se importa com clichês? Eu não me importo, desde que haja sentimentos e sinceridade.
Ah... Então... Foda-se.
Ser brega por coincidência, por necessidade ou por sentir demais?
Não importa. Foda-se.
Apenas registro o momento. Entenda as entrelinhas e o meu suposto mau-gosto. Não sou como você, graças a Deus.
Fantoches pseudo-criativistas esperando ser radicais pela palavra ou pela originalidade. O que eu tenho a ver com isso?
TENHO DIAS
Tenho dias em que sou do mundo
e outros em que sou só meu
Tenho dias em que sorrio
e outros em que choro
Tenho dias em que grito
e outros em que silencio
Tenho dias em que amo
e outros em que desamo
Tenho dias em que faço tudo
e outros em que deixo tudo por fazer
(2006)
DESNUDO
Nada sei do mundo,
quase nada sei de mim,
só sei que o meu coração
é um tolo apaixonado.
Nada sei da vida,
sou ainda muito ingênuo para saber,
mas sei que tenho um sentimento
que não posso ignorar.
Nada sei do amor,
mas apesar de tudo amo,
amo como um louco
sem ter como evitar.
(2006)
NO SILÊNCIO
Silencio a alma,
entrego-me ao abandono
na paz vazia,
na solidão tardia.
O vento me acalma
na tarde cinza.
Será que enlouqueci?
(2006)
PLÁGIO
Tenho tantos sentimentos em mim
que às vezes quase me convenço de que sou sensível.
Não sei bem ao certo o que estou sentindo.
Acho que estou apenas plagiando Pessoa.
Todo poeta é um ladrão de idéias, romances,
pensamentos e dramas afetivos.
Não sou exceção.
Na verdade, nem poeta eu sou.
Apenas cato versos no lixo da consciência alheia
sem dar ao trabalho de reciclá-los.
Vivemos como flores daninhas na lama.
(30/01/2007)
DELÍRIOS DO POETA APAIXONADO
Aflora em mim o odor agonizante
da paixão entorpecida
como flor recém nascida
à espera do beijo do beija-flor.
Sem abrigo, aparentemente exposto,
desbravando segredos do coração.
Na timidez das palavras,
metáforas inocentes,
algumas pétalas, versos-borboleta.
Na insensatez, a delicadeza de um toque,
a pele reveste o corpo de mistério.
Sigo obstinado como o girassol,
amando entre nuvens.
Sinto e escrevo.
Pareço brisa leve na primavera
brincando no rosto da menina,
como num sonho maravilhoso
do qual não se quer mais acordar!...
(14/03/2007)
IMPRESSÕES
Sou homem-criança-adulto-menino
que o tempo tratou de enrugar
sem deixar perder a inocência.
Ao olhar o baú das recordações
vi tanta coisa que fiz
e tantas outras que deixei por fazer.
Hoje meu olhar parece mais triste,
mais sóbrio, consciente dos sonhos
que podem sair à luz e dos que devem ficar
guardados na escuridão da alma
por tempo indeterminado.
A vida é azul com tons cinza
entre um dia e outro de glória e decadência.
Não me importo com as palavras
que não vêm do meu coração –
isso já não me machuca mais.
Dou ainda meus primeiros passos
como um eterno aprendiz da infância
e não acho isso tão pouco assim.
Se eu pudesse voltar atrás
talvez não seria mais feliz,
mas nada sei do que existe,
só posso falar do que sinto.
Não há consenso em mim,
sou vários, múltiplo indivisível.
Minha metamorfose constante
me permite ver o mundo por diversos ângulos.
Sou assim,
excedente dos excessos,
único, diversificado em fragmentos frágeis.
Vazio, quase triste, pleno,
sensível no concreto e nas ilusões,
no olhar de menino que perdeu a inocência.
(15/05/2007)
PROCURA-SE
Ando à espreita,
à procura de mim.
Não me encontro.
Onde estou?
Procurei no desabrigo,
na lama,
nos lírios mortos.
Não me encontrei.
Estou por aí,
espalhado por toda parte,
bem longe de mim.
(15/11/07)
Todos parecem tão felizes, realizados... Sinto que o dia foi feito para dada um deles.
Mas, apesar de toda essa perfeição que me ofusca a alma, hoje me vejo triste, desanimado de tudo, com um aperto no coração, sem vontade para nada.
Às vezes parece que a vida cisma em ficar do avesso, paradoxal ao meu estado de espírito. (Ou sou eu que estou do avesso?)