quarta-feira, 29 de junho de 2011

DISPERSO
Morri para dentro.
Acordei entre girassóis e cataventos
que não me mostraram a direção.

Tantas promessas...
Passos em vão...
a alma cansada
na prisão chamada corpo
que quer se libertar.

Estrada que se parte,
bifurcação de ideias,
sentidos,
polissemias.

Tudo em nada,

disfunção dos sentimentos
em efeito cascata,
dominó,
temporal.

Eu
aqui

disperso
feito pó.

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ALÉM DOS MUROS DE JERUSALÉM
Há um mundo morrendo
do lado de fora da janela.
Bajulação,
subserviências,
enquanto morremos.

Instituições,
hierarquias,
faça tudo o que seu mestre mandar.

Ouça os gritos mudos das crianças que imploram
por um dia florido,
mas só há espinhos,
açoite,
mortos-vivos.

Da janela do Vaticano
mais uma bênção,
mais uma desgraça...
E Deus, onde está?
Onde estamos?
Onde haverá vida
nesse deserto repleto
de pessoas sedentas?

O que nos sobra?
Sobra o coração,
esse santuário devassado e prostituído,
maculado,
sangrado,
mas ainda com a inocência pueril
que por ora permanece.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Alguns devaneios

Breve vida,
quero-te eterna
a cada dia.

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Transitoriedade da vida,
belas borboletas
num voo incerto
finito.

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Lembranças perdidas
entre o bater da porta
e o epitáfio.

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O vento sopra,
parece contar histórias.
E eu ainda não sei nada de mim.

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Por mim
seria o fim
de mim.

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Enfim,
nada
faz sentido
em mim.

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Sou intersecção
imperfeita
entre o que sou
e os sonhos que tenho.

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

Produzo
meios e subterfúgios
para me convencer a mim mesmo
de que toda consciência parte do princípio
de que não somos nada e ao nada voltaremos.

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

A primavera virá!
Tudo voltará a florir
e a minha alma encontrará luz
em meio ao caos.

Desertos de sorrisos disformes,
arsenal de beijos recusados,
antagonismo de olhares,
compaixão desprezada;
esqueça tudo isso!

Tudo se acabará,
pois a primavera virá em mim
e minh'alma haverá de florir
entre o limiar de uma nova estação
e minha moribunda esperança
que muitos chamam de quimera.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

OS ESQUECIDOS E A ETERNA MARCHA DOS PÉS DESCALÇOS

Todas as oportunidades parecem vãs,
vão de entrada,
vãos da janela
que o frio desperto dispersa.

Vão-se sonhos em maremotos da alma.
A cada dia acordo vivo e sinto medo;
medo de mim, medo de tudo o que não entendo.

Vão-se sóbrios os dependentes,
doentes os sãos,
inocentes os ladrões,
ignorados os amantes.

A cada dia, a cada lamentar-se,
a cada cão que lambe suas feridas,
a cada filantropo que deposita uma moeda em sua vida,
a cada revolta, a cada inconfidência, a cada reacionário,
a cada hipócrita que reza ao Deus-dinheiro,
a cada descrente que agoniza,
a cada um que diz: foi vontade de Deus.

A cada um de nós, que espera,
que consente,
que diz sim a todas as injúrias,
a todas as perversidades,
pilantragens,
falsidades
ditas e assinadas.

A poesia tuberculosa adormece,
a doença dos românticos segue em marcha,
grita de fome, de medo, em nome da arte.

Mas não há arte quando se tem fome -
fome de comida e fome de livros.
Somos um país doente
em eterna quarentena.

A cada um de nós,
poetas ou loucos,
de amores prostituídos ou castos,

que perambulam pela vida só de passagem...
o eterno brindar àqueles que se põem em marcha
sem destino.
MADRUGADA
Perambulo
em preâmbulos,
confuso,
errante.

Extremo paradoxo,
paráfrase de mim,
paródia do mundo,
inseguro,
desigual,
reticente.

Caricato e irônico
entre mentiras e meias-verdades
inventadas.

Perto do fim,
o início de mim
enfim.
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BEM-QUERER
Quero flores na janela
e eternas quimeras
no meu jardim.

Quero dias de sol
no inverno que me consome
como inferno
ou ressaca.

Quero a doce querência
das ilusões infindas
mais que bem-vindas.

Quero o repousar,
cegar-me
para enxergar assim
o mundo
renovado.

Quero sonhar então
de olhos abertos
na possibilidade do voo
pós-libertação.

domingo, 26 de junho de 2011

Convalescente

Estive acamado,
doente do corpo e das palavras.

Mudo,
despenco-me em agonias,
palidez
e versos mortos.

Convalescente,
entre o delírio,
o desmaio
e a inspiração.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Impudico

Sem pudor,
a boca implora,

as mãos tocam,
o gozo,
atração de corpos.

Intimidade,
suavidade da pele,
contatos físicos
perpassam a alma sedenta
de desejo.

Beijos,
línguas que se encontram,
nas entrelinhas e labirintos
do nosso amor,
nosso céu particular.

Aurora

AURORA
É tarde.
Muito tarde.
Ou sou eu que escureço
e me ponho com o sol?

Faz frio.
Muito frio.
Ou será que o meu coração
congelou?

Uma brisa libertina
me toca o rosto
sussurra histórias
perdidas
pelo tempo,
pelo vento.

Além de mim,
além de tudo,
nascerá o dia,
nascerei
um dia.

Sou aurora,
crepúsculo,
hora morta,
ângelus
(Ave Maria,
cheia de graça...),
anjo,
parte de um todo.

Sou liturgia das horas,
beneditino,
monge
enclausurado,
pecado
estrangulado,
expurgo,
ex-tudo,
ex-de mim.

Sinos ao longe.
Indulgências plenárias.
Uma prece.
Recomeço.
Ergo-me,
sinto medo,
desengano,
pesar.

Luz em trevas.
Esperança.
Faz-se o milagre.
Amanheço.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vãs e sãs

VÃS E SÃS
Coisas vãs
que se vão
são para mim
alento,
pecado
e perdão.

Coisas sãs
me enlouquecem,
me enternecem,
sabotam meu dia
com lentidão
e podridão.

Esquecimento

ESQUECIMENTO
Entrei em greve
de mim,
por tempo indeterminado;
estou fechado para balanço.
Tenho mil coisas para fazer
e não faço nada.

Tenho inúmeras contas a pagar,
tenho livros para ler que sequer vi a capa,
tenho um filho para criar (e o meu filho ainda nem nasceu),
tenho um poema maravilhoso para escrever
embora saiba que nunca escreverei.

Viajarei para longe,
longe da consciência,
longe dos problemas,
longe das injúrias,
longe de tudo o que me faz mal.

Quero um lugar onde eu possa esquecer um pouco de mim.

Medo

MEDO
Tenho muito medo
e esse medo me entorpece os sentidos,
me deixa estagnado
sem saber o que fazer.

Ah! Quanta vida deve existir além do arco-íris!
(mas ainda nem choveu...)
Quanta alegria eu encontraria no pôr-do-sol!
(mas no inverno tudo é cinza e frio...)

Tenho muito medo,
medo de mim e dos meus medos,
medo da possibilidade de sentir medo.

Hoje quero apenas o tédio e a melancolia,
quero a ilusão e a sombra de coqueiros falsos,
quero o torpor,
o sono,
o sumir-se,
quero
ser
sem
mim
no fim.

Vasto mundo vazio

VASTO MUNDO VAZIO
Deserto em mim.
Decerto estou seco.
Poeira e vento
espalham-me
por toda parte.

Saio,
finjo ser tudo,
menos eu mesmo.

Reparto-me
em cacos,
fatos.

Fecho os olhos,
acordo para mim,
sonho
insone.

Mosaico imperfeito,
muitos de mim
espalhados pelo chão.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

FACETAS
Desespero.
Desgovernado.
Qual o rumo?
Quais as ilusões?
Último versículo.
Rastros.
Mistérios.
Miséria da alma.

Eu recôndito em mim.
Impureza sem mácula.
Asas.
Voo.
Queda.
Escombros.
Erguer-se.
Facetas de mim.
Falácias.
Fauna humana.
Lágrimas.
Sem ar, sem mar.
Vácuo.
Vazio.
Nada.
Estigmatizado.
Pragmatizado.
Eu sem mim.
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PARALISIA
Deixe-me aqui,
estou bem, sozinho,
na inquietude niilista,
entre a tempestade e a calmaria.

Imperpétuo,
flores brancas no altar da desordem.
Um sorriso de soslaio.
Uma foto não tirada,
um destino enganado.
Ledo engano.

Apague de mim,
memórias,
lembranças;
preciso esquecer
diários,
torturas,
maledicências
e falsas benevolências.

Infância tardia, retrógrada e bastarda
como ervas daninhas no cimento,
no coração descompassado,
na ilusão que cai
feito chuva.

Eis a vida,
triste acaso ocaionado,
ocaso,
sem testemunhas,
cataléptica,
epiléptica,
paralisia temporária
que me persegue no sono:
fantasmas de mim em mim.

Acordo sufocado.
Ainda vivo,
transpirando
de frio.
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COMPLETUDE
Completo me sinto
diante de ti.
Pareço novo,
renovado,
apesar das marcas da vida
em mim.

Completo estou
pela tua presença,
magia
que devora
minha carne
revigora
meus sentidos.

Completo vivo,
metade da minha metade.
Ressuscitado,
libertado,
sou gaivota que singra
ares e mares
em direção
ao teu horizonte.

(Minha casa,
minha vida,
meu destino.)

Sou agora completo
onde estás.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ressurgir...

Estou aqui
no silêncio do quarto,
à meia-luz
que ofusca.

Resquícios do sol invernal
acariciando-me
bem de leve.

Momento de lucidez,
embora não me permita
abrir a janela.


Sem lágrimas
fecho os olhos,
entrego-me à doce ilusão ociosa.

Imerso em palavras e silêncio.

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Tempo de estio.
O coração plantou sonhos,

colheu apenas ilusões.

A alma consentiu,
o corpo traduziu-se
em sono e cansaço.

Tempo de amar.
Doce sorriso,
ressuscito.
 
Acordo renovado,
tenho vida em mim
absorto em ti.

Diante do teu olhar,
perco-me pelo ar,
vejo o mundo parar.


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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Raios-X da alma

Afago.
Memórias esquecidas.
Um longo tempo.
Alma enferrujada.

Das cinzas fez-se imóvel
a última quimera,
à sombra de prantos e ipês amarelos
que a luz desterra.

Impiedosa fera
que devora.
Ímpia doença
de outrora.

A um passo do arco-íris
a solidão produz imagens
que nada dizem -
abstração da alma tuberculosa.

Sufocado o grito,
o choro compulsivo
aprisionado no peito
sem efeito.

Morta a flor,
símbolo da dor;
bate à porta
a esperança morta.

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Etérea ilusão desnuda
que a tudo inunda,
sobrevive a cada vã descrença.

Desgraça pós-moderna
que a ânsia de vômito revela
como sobrevida anêmica.

Preâmbulos,
pêsames,
pêndulos,
desalinho
e caos.

Tentação sob os véus,
cabala dos aflitos,
a cada esmola,
a cada migalha,
rebuscando a fala
muda e incômoda.

Em farrapos,
a agonia das horas
de um relógio parado.

O ar adocicado,
cheiro de morte,
o frio que congela a pele.

Escuro e nada.
As janelas batem com o vento,
murmúrios longínquos
martelam o inconsciente
a agonia insana,
demente.

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Martírio em minh'alma
sedenta de vida.
Quero o eterno recomeçar
mesmo que fugaz,
na alvorada da insônia.

A alma indômita,
selvagem,
multiplica-se
em paródicas certezas
inverossímeis.

Fábula dos bandidos!
Retratação dos insubordinados!
Insultos glorificados!

Oh, vida insensata!
Renasceremos para o nada
na aurora que vaga
e infame nos cega.

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Minha flor,
tens beleza e força,
disciplina e sinceridade.

Tens beijos que me enlouquecem,
tens o sorriso mais belo,
a doçura que emudece.

Ah! Quanto ainda temos juntos,
quanta vida,
quanta esperança,
quantos sonhos nos esperam
nesse trem da eternidade
que abarca o coração!...

Na experiência das borboletas,
voaremos assim,
libertos de juízo,
na essência apaixonada,
que brota em nosso jardim.
 
Ah! quanta vida,
quanta beleza -
efemeridade do eterno
que habita em nós!...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Algumas (des)inspirações da alma

As palavras gotejam,
tomam vida
pré-casulo.

A alma pueril
pastoril
de poeta
se manifesta.

A vida,
muito além da inspiração
envereda-se por aí,
nuvem em céu azul.

Possivelmente
ardo em febre e paixão,
por ter em mim
a magia
da poesia.

Doce invocação,
incansável peregrinação
a cada verso,
a cada rima desfeita
pela emoção
de poetar.

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

Sonho.
Transpiro mais que o normal.
O sono leve e inconstante.
A manhã fria acorda
e me acode
sem razão.

Levanto-me a duras penas.
Olho-me no espelho.
Não me reconheço.
Sou o mesmo, mas sou outro.

Envelheci?
Morri?
Decerto, não.

Porém, algo em mim mudou,
metamorfoseou-se.

Sou cópia perfeita de mim,
infância tardia,
retrocesso,
pesadelo juvenil.

Venço o medo,
a timidez.

Reinvento-me.
Tardo.
Escurecido em memórias,
fantasmas,
vazio.

Aglutino,
reparto-me.

O que sobra?
Eu.
Inteiro
em sonhos decepados.

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

Desfalece a última esperança.
O corpo cansado espera.
Ai de mim resistir
à minha própria vontade.

Perece a fina flor
em terra árida,
imoral.

Desterra o mito,
narciso
sem espelho.

Deduz.
Pondera.
Crianças na calçada.
Sirenes.
Para casa,
todos para casa.

Ficção em tempo real.
Vigie.
(Quem? Por quê? Onde?)
Minhas condolências
aos filhos da puta marginalizados
que fedem em seu peito murcho
não nascidos, escarrados.

Triste e belo destino.
Trocados.

O pão nosso de cada dia dai-nos hoje.
Caiamos em tentação.

Um grito.
Escuro.
Sangue.
Fodam-me - é o que ela grita,
com lágrimas de medo,
com o desejo prostituído,
com o hálito faminto,
sem passado, sem presente, sem futuro aparente,
sem glória, sem certo e errado.

E a ciranda continua girando viciosamente.

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

Eu sei.
Minha poesia não tem sabor,
minhas palavras são duras
e sem pudor.

Não são límpidas,
muito menos apaixonantes.

Meus ideais são mundanos.
Minhas ideologias, transgressoras.

Mas entendas, meu bem,
o amor transborda em mim
e em oferenda me faço teu.

Podes me provar,
podes me devorar,
podes fazer de mim
tudo o que quiseres.

Sou teu,
num laço eterno,
eterna primavera
a despontar diante de nós.