sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Auto-aceitação


Não consigo fazer parte da felicidade que contagia a multidão.

Acho até empolgante, realmente interessante, mas não consigo contar piadas, dançar, gritar, extravasar como tantos fazem.

Não sou assim, sinto muito.

Se eu mudasse, transgredindo a minha natureza, tudo soaria tão falso, tão forçado, tão errado em mim!...

Prefiro ser um estrangeiro entre os meus, um exilado da minha gente, qualquer coisa que me agrade e não me faça ter vergonha ou pudor de mim mesmo (ainda que muitos não me aceitem como sou).

Basta-me ser eu mesmo para mim.

Acasos


Mais uma vez me vejo diante do mundo, distante de mim, configurando sonhos e revendo conceitos.

Abandonado pelo destino, inquieto, amadurecido pelo aprendizado do dia a dia.

Amante de quimeras, abstrato, absorto, sozinho na multidão.

Caminhando com as mãos no bolso, fugindo do frio e da chuva fina.

Viver parece acaso, ocaso, termo que nenhuma das partes assina.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Grotesco X Sensível


Aceito circunstâncias imutáveis.

Tento mudar rotinas de vez em quando.

Olho para dentro de mim sempre que me desconheço.

O que os outros pensam de mim nem sempre tem tanta importância assim.

Para muitos sou grotesco, para outros sou sensível ao extremo. Questão de ponto de vista. (Ou de convivência)?

Sou apenas eu mesmo, sem transparências e sem fotocópias.

Apenas eu mesmo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Revolução das idéias


Estou mais irônico do que o normal. Mas não será o nosso mundo a coisa mais cínica, imoral e suja que existe?

Enquanto muitos fingem que não há nada demais na desgraça humana que assola corações e mentes, prefiro acreditar que preciso continuar escrevevendo com sangue e versos a triste trilha sonora do pós-modernismo.

Por toda parte animais que se dizem humanos: idolatram o dinheiro, estupram crianças e mulheres, celebram todo tipo de preconceitos (contra o negro, contra a mulher, contra o jovem, contra o homossexual, contra o pobre, contra o desempregado, contra o que vive de miséria e de humilhação, contra o doente, contra o idoso, contra o difererente...). Querem pessoas uniformizadas por dentro e por fora, sem a sua individualidade respeitada, sem o direito de escolherem e serem livres.

O que eu tenho a ver com esses insensíveis desumanos?

Por enquanto, vou versificando o desencanto existencial, as quimeras impuras dos caminhos tortuosos, os corações secos e improdutivos... São sementes, apenas sementes, nada mais que sementes lançadas ao acaso, eu sei... A esperança está na UTI, entubada, mas sobrevive milagrosamente.


Mas chega a hora de agir... Eu, você e quem se acomodou com o absurdo do cotidiano... O que temos a ver com isso? Que posição tomaremos? Com que armas lutaremos? Até quando resistiremos? Por que ainda nos calamos? Que mundo queremos para nossas crianças? De que valores abrimos mão? Que preconceitos exaltamos? Que leis (religiosas, civis, jurídicas ou o que quer que sejam) usamos para matar e excluir? De que ordens podemos nos valer para libertar o ser humano que vive com a mente acorrentada em conservadorismos e leis que subjugam a essência individual que cada um tem dentro de si?

Assine tratados de paz, derrube do poder quem não respeita e não sabe o que significa ÉTICA, seja fora da lei se assim for preciso, seja contraventor pelo bem comum, saia da norma, seja politicamente incorreto num mundo de mentes hipócritas de direita que ainda pensam como nossos avós. Quero o novo no poder e nas consciências.
Estamos para começar uma guerra: a revolução das idéias dos que têm honra, sensibilidade e coração.



Remover os escombros. Salvar os feridos. Aprender com o passado. Cuidar do presente. Preparar o futuro. Plantar tolerância e esperança. Produzir amor. Gerar consciência. Formar e informar a partir da autonomia dos sujeitos.

Precisamos de mais gente para começar o nosso mutirão.

Há um mundo inteiro para recontruir.

$$$ Usados, comprados & perdidos $$$


Feito de carne. Resistente. À prova de muitas dores e crises econômicas. Agüenta mais que um camelo no deserto.

Inteligente? Um pouco. Faz quase tudo o que você mandar: rola, ri, pula, dá a mão...

Pode se corromper facilmente. Movido a dinheiro. Tração nas duas pernas. Possui duas faces que se alternam conforme as conveniências.

Custa o preço que você puder comprá-lo e já vem embrulhado para presente. E quase nunca tem crises de consciência, mas consertamos ou trocamos por outro modelo se ainda estiver na garantia.

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- Vou ficar com este, obrigado.

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(A vida humana não vale mais nada.)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Deformações sociais


Desconstruíram o ser humano.

Não vejo sua essência, apenas acaso e sarjeta.

A alma humana tem se sujado de lama constantemente. (Parece deformada.)

Alguém poderia me consertar? Minha alma partiu-se em duas, em três, em não sei quantas mais...

Só há o degredo e o segredo, o silêncio e a desonra, a culpa e a impunidade, a espera e a distância, a anistia e os mortos em nossa mente – estupro da consciência.

– Inocente, sou inocente!!! – grite vinte mil vezes, seu indecente, e fique aliviado.

Grite, seu filho da puta!

E continue corrompido, desde o berço até sua morte inglória.

Contribua assim para o mundo em que vivemos, sendo a lama da humanidade, a podridão da mente em toda a sua impunidade.

O que eu faço aqui? O que eu faço aqui? O que eu faço aqui?

(Eu devo ser mais um grande filho da puta corrompido pelo lugar-comum, pelas aparências malditas, pelo mal-estar que impregna toda a sociedade.)


O cristal humano se partiu.

Somos apenas cacos pelo chão.

Belezas do caos pós-moderno


O cara bateu na menina até ela sangrar e perder a consciência; depois estuprou-a, num ato próximo à necrofilia.

A menina é acusada de falta de decoro – há alguma coisa estranha.

Crianças desaprendem na escola.

Violência é o atrativo da semana.

Mais um acidente. Tantos curiosos à nossa volta. A desgraça virou programa de auditório.

Rostos sem nome, sem pernas, sem crânios, sem vida. Muito interessante.

A tragédia é mais bonita ao vivo do que na televisão.

A morte alheia é um espetáculo – Novo império Romano em praça pública. Circo sem pão.

Jogue seu avião no próximo prédio. Mate um recém-nascido jogando-o da janela do seu apartamento. Seja inconsciente de seus atos. Eu te perdôo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Não haverá amanhã para a criança no útero e nem para o jovem que perambula sem destino pela sujeira das grandes cidades. Dê ao primeiro uma navalha como seu primeiro brinquedo – será muito útil no futuro. Ao segundo dê uma arma e o abstenha de livros e de futuro.

Estes dias são insensatos e paradoxalmente comuns.

Talvez uma bomba atômica resolva o nosso problema (o caráter humano já se encontra em extinção).

Matem as vontades.

O sadismo social permanece – fetiche pós-moderno.

Não sinta, não reflita, não ame ninguém. Não vale a pena. Quem se aproxima é um estranho, pode ser o seu inimigo número um, nada mais.

Esconda-se no vazio de seu mundo super protegido de mentiras e ironias.

O amanhã é incerto e o pavio é curto.

Feche os olhos e durma para não morrer.

Sem ética, sem esperança, sem compaixão, insensíveis à dor e a tudo o que se tornou sensacionalista e comum... Prosseguimos mesmo assim, sem destino e sem grandes objetivos, sobrevivendo e não vivendo.

O mundo está um caos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Divagações sobre o amor


Não há explicação para esse negócio chamado amor.

Ama-se e ponto final.

O coração bate descompassado, as palavras nos confundem, as mãos ficam trêmulas.

Quem já amou sofre por não ter dado certo e sonha em encontrar a pessoa certa. Quem ainda não amou idealiza o momento do encontro e vive ansioso – por causa disso acaba muitas vezes escolhendo a pessoa errada e se decepciona com o amor: “nunca mais amarei!”, garantem.

Na verdade o amor não é uma busca, é um encontro, muitas vezes casual, que pode ser precedida ou não por uma amizade, por uma coincidência do destino ou por afinidades (ou até mesmo desafinidades).

Não há uma receita para se amar alguem ou para que os outros nos amem.

A atração física pode até ser determinante em alguns casos, mas a descoberta de quem o outro é por dentro, a sua riqueza espiritual, a sua beleza de caráter são essenciais para que o amor seja uma chama que nunca se apague. A beleza é perecível ao tempo, mas a alma de alguém não se desfaz com o passar dos anos.

O amor é um bálsamo para o coração apaixonado, uma canção suave, um poema perfeito, um sorriso para dias tristes, um conforto para noites frias.

“Quando se aprende a amar o mundo passa a ser seu”, bem disse Renato Russo, que sempre buscou um sentimento verdadeiro em sua vida. Não sei se ele se realizou afetivamente, mas teve coragem, não escondeu o que sentia, entregou-se até ao fim.

Na verdade, todo amor é entrega e dedicação.

Tenha suas experiências amorosas sem medo, mas só entregue o seu coração a quem de fato merece. E cuide bem do coração alheio. Não há nada mais desumano do que ferir um coração.

Ressuscitado... Amém.

Estava morto. Ressuscitei.

Quando não escrevo é como se eu não existisse.

Preciso pôr os pensamentos em ordem, organizar as palavras, expressar, sentir, conjeturar.

Não sou um profissional das palavras. Sou um amador: amo o que faço, embora aja por impulso e por intuição, sem me ater a crenças ou superstições.

Ressuscitei. Há vida em mim, perpetuada pelo gosto por escrever. Assim serei eterno.
Amém.

Alma escancarada

Estive longe.

Longe de quê?

Longe de mim...

Olho-me por dentro... A alma enrugada, o coração ansioso por nada aparentemente urgente, a vida calma, o tempo amigo-algoz.

Retornei. Reconheci-me. Re-amei-me.

Reproduzirei sonhos em palavras e versos incoerentes.

Deixarei a alma escancarada.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Buscando... O quê?


Busco inspiração no fundo de mim, no poço onde não se vê nada. Apenas escuridão.

As palavras são repetidas, tudo soa tão falso, tão insensato.

Talvez se eu morresse pela arte encontraria sobre o que escrever.

Mas se eu morresse não teria como escrever. Quero, portanto, vida. Vida pela e em nome da arte. Que arte?

Tudo em mim são trevas sem nome, sem origem e sem pátria.

... Mas...

Seriam as palavras arte? Ou seriam demagogia, mera especulação da realidade?

Talvez eu seja um fingidor, como afirmou Pessoa.

O que fazer então?

Por ora me basta escrever, mesmo sem ritmo, sem profundidade, sem paixão. As palavras devem falar por si.