quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Amar-te-ei


mar
amar
amarei
amar-te-ei
mais que amanhã
mais que para sempre
mais que a mim mesmo
amar-te-ei

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A arte de amar (num único ato)


Amar é o sentido do mundo. Às vezes faz sofrer, mas se o amor é verdadeiro, não deve e não pode causar dor.
De preferência é essencial que se beije de olhos abertos, que se deite na grama e conte estrelas, que se ofereça flores (mesmo as roubadas em qualquer jardim). É imprescindível que se escreva ao menos um poema a quem se ama (mesmo que não se saiba compor poemas, mesmo que seja um simples "eu te amo" numa folha amassada de caderno) ou que tenha uma canção a qual se possa chamar de "a nossa canção".
O importante é amar com o coração sincero. Se não se ama de verdade, logo a chama da paixão se apaga e a escuridão acaba por reinar, deixando-nos num labirinto sem enxergar a saída.
Não quero amar por um engano, por um acaso, por uma etapa, por uma mera formalidade.
Quero amar com fogo, com paixão, com tesão, com a necessidade de ser amado e de me doar a todo instante. Um único ato: amar e ser amado. O que foge disso é de procedência maligna (a arte de desamar, desalmado).
Por isso entrego o meu coração ao ofício, à arte, ao prazer, ao artesanato (ou o que quer que seja) do amor.

Amor possessivo (em três atos)


Ato 1:
Amavam-se. (Amavam-se?)
Ninguém sabia ao certo. A doença da posse assolara o coração do casal.

Ato 2:
Brigavam. (Brigavam? Mais que isso: esfolavam-se.)

Ato 3:
Última discussão. Lágrimas. Ofensas.
O menino matou a namorada por um ciúme banal.
Em seguida, arrependido, pulou da ponte Rio-Niterói.

Amor eterno (em três atos)


Ato 1:
Conheceram-se ainda jovens. Começaram a namorar. Compromisso. Mãos dadas.

Ato 2:
Juraram amor eterno diante do altar. Até que a morte os separe.

Ato 3:
Envelheceram juntos. Os filhos visitam o casal aos finais de semana. Os netos correm felizes no quintal.

Amor à primeira vista (em três atos)


Ato 1:
A menina olhou para o rapaz. O rapaz parou o seu olhar na beleza da menina.
Apaixonaram-se como nunca havia acontecido antes.

Ato 2:
Aproximaram-se. Um sorriso. Poucas palavras trocadas. Timidez. Rostos afogueados.

Ato 3:
Beijaram-se num beijo que selou aquela paixão sem explicação.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Único / Universal

Denuncia estereótipos ou falsas definições de ti.

Egolatra-te.

Ninguém te amará mais do que tu mesmo.

Podes e deves ir adiante.

Enfrenta o mundo.

Sê espelho e reflexo de ti. Descarta as aparências.

O que te dirão de ti mesmo não importa. Não mesmo.

O que importa é o que és e o que farás sem permissão alheia.

Sê único e universal.

Primavera em abismos


Há dias em que me sinto mais triste do que o habitual.

A primavera chegou sem sonhos, sem flores, sem ao menos a esperança do broto. Trouxe somente a chuva e o frio para coroar a monotonia nostálgica sem passado que me assola.

Sério. Não sei nada de mim que já seja passado. Talvez só saiba o que desejo.

E o que desejo?

Não sei. já senti. Serve isso?

Sinto-me nu em meio ao caos instaurado em meu espírito. Neblina, precipício e abismo por toda parte.

Segunda-feira.

O relógio passa. Minha agonia permanece.

Sufocado. A mente turva sem usar as drogas (que nunca experimentei) e os escapes do cotidiano.

Um pouco de música, por favor, mas em pequenas doses. Estou com dor de cabeça. Litros e mais litros de ânimo. Deixem-me no canto embriagado. Uma grande porção de esperança para o dia de hoje, mas coloque um pouco mais para viagem.

Não sei para onde eu vou. Sigo obstinado com ânsias de adolescente. Com o desejo enrugado, é verdade, mas ainda sentindo.

Sentindo o quê? Pensando em quê? Aspirando a quê?

Não sei e não importa.

Logo renasço mais uma vez.

(O sol surge tímido por entre as nuvens.)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Os verdadeiros amigos são eternos

Às vezes convivemos tanto tempo com alguém para percebermos quem essa pessoa é realmente.

Muitas vezes esperamos lealdade e sinceridade, mas recebemos tudo ao contrário: traição, maledicência, cinismo, aspereza, palavras e atitudes surpreendentes, que nos deixam decepcionados. E aí acabamos cometendo um erro ainda maior, dizendo coisas como: “De hoje em diante não confio mais em ninguém” ou “Quanto mais conheço as pessoas, mais admiro os animais”.


Perder o chão? Não mesmo.

Existem as pessoas em quem podemos confiar e as que – com o seu devido tempo – mostrarão quem realmente são.

Mas saber em quem podemos confiar não é algo que se descubra num simples olhar: “Quem vê cara não vê coração”, já dizia a sabedoria popular.

Por isso é um erro abrirmos nosso coração a qualquer um logo de início, fazendo a pessoa entrar sem mesmo pedir licença, revirando tudo o que tem lá dentro e causando tanto estrago.

Temos que aprender a deixar as pessoas entrarem em nossas vidas aos poucos. Um pouco de precaução nunca faz mal a ninguém, e evitará transtornos e decepções no futuro.

Só aprendemos assim, com os tropeços e os percalços no caminho.

Mas os verdadeiros amigos... Ah! esses ficarão para sempre em nossas vidas, mesmo que a distância venha a ser um obstáculo.

Amigos estão sempre em nossos corações. Eles entendem quem somos, há cumplicidade em cada palavra, em cada olhar, em cada abraço.


Os outros passam por nós como uma tempestade, deixam estragos, mas passam.

Amigos verdadeiros são como uma suave brisa pela manhã, uma doce melodia, um belo poema. Estão sempre prontos a nos ajudar em todos os momentos, curando as nossas feridas, enxugando as nossas lágrimas e nos fazendo sorrir novamente.

Amigos são presentes que Deus no deixou para dar sentido à nossa existência. Digo mais: amigos são as flores mais perfumadas que nascem em nosso jardim.


Então, cuidemos com carinho do nosso jardim.

Os verdadeiros amigos têm o dom da eternidade.

Ao vento...


AO VENTO...
Ao vento
vão-se as palavras,
vão-se os ideais,
vão-se os sonhos.

Ao vento
sorrisos,
olhares,
sentidos.

Ao vento
vem a esperança,
vem a bonança,
vêm as incertezas.

Ao vento
espero realizações,
despeço-me das coisas vãs,
adormeço na saudade.

Ao vento
algum presságio,
algumas histórias contadas,
algum tempo passado.


Ao vento
encontros,
cumprimentos,
despedidas.


Ao vento...
Ah! ao vento tudo se vai,
até as alegrias
e as tristezas.

Ao vento...

(Paulo Avila, 19/09/2008)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Quero dizer-te "Eu te amo"


Quero fazer deste dia, assim como de cada próximo dia que virá, mais um dia especial para viver intensamente meu amor por ti. E dizer “eu te amo” me enche de alegria e muita emoção, pois és a flor mais bela que apareceu em minha vida.

Obrigado por existires e fazeres parte de mim, por me fazeres tão feliz, amado e realizado.

Quero dizer-te “eu te amo” com um sorriso e um coração aberto.

Quero dizer-te “eu te amo” desde o nascer ao pôr-do-sol, quando eu acordar até ao adormecer.

Quero dizer-te “eu te amo” todos os dias, sem me cansar, suave, bem claro, olhando nos teus olhos, ao te beijar, ao te abraçar, ao sentir tua presença em minha vida.

Quero dizer-te “eu te amo” sem cair no lugar-comum, sem virar rotina, sem me cansar, por saber que tudo brota do meu peito de forma sincera e leal.

Quero dizer-te “eu te amo” com ternura, ao teu ouvido, bem baixinho, quando estivermos a sós.

Quero dizer-te “eu te amo” numa canção, num poema, no meu silêncio, no meu agir.

Quero dizer “eu te amo”, não apenas por dizer, mas porque és força que me conduz, brisa leve que me sopra o rosto dizendo coisas bonitas.

Quero dizer-te “eu te amo” por seres flor, e, por seres flor, seres digna de carinho, cuidado e veneração; por exalares perfume e alegria em toda parte; por me fazeres importante e querido; por me deixares ser EU.

Quero dizer-te “eu te amo” por seres anjo que me acolhes, me abrigas e me dás paz; por me dares luz, afago e calor.

Quero dizer-te “eu te amo” em todo e cada momento e assim sentir que juntos nos tornamos um único Coração num único amor.

EU TE AMO!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O Poeta


O poeta faz da sua poesia um instrumento para expressar os seus sentimentos, para se libertar, para gritar a sua existência, para refletir sobre a vida.

Poeta é aquele que vê beleza e poesia na lua, nas estrelas, no barulho da chuva; que pensa com o coração e quase não usa a razão; que se emociona facilmente com romances, com canções nostálgicas, com a inocência de uma criança, com um retrato da infância; que acredita em amor perfeito (à primeira vista e, muitas vezes, platônico), em sorrisos sinceros, em abraços calorosos, em paixões fulminantes; que encontra beleza no silêncio, na solidão, no vai e vem das pessoas; que beija de olhos fechados, que sabe o valor de ter amigos, que gosta do gosto de lágrimas, do pôr do sol, do canto dos pássaros, do vento que balança as folhas das palmeiras e o cabelo da menina na praça; que acredita na vida, na esperança (embora sofra), nos seus sonhos tortos; que não suporta pessoas intolerantes, injustas, cruéis, preconceituosas; que ama as pessoas sensíveis, simples, inteligentes, abertas ao novo, repletas de compaixão.

Enfim, poeta é aquele que acredita no AMOR, em todas as suas formas, com simplicidade de coração.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Fechado


Hoje não estou para ninguém. Estou fechado para balanço, para reformas, para qualquer coisa parecida ou que me seja conveniente.


Pareço uma bomba-relógio, uma panela de pressão prestes a explodir.

Não me importunem, deixem-me quieto no meu canto. Estou irritado e algum comentário inoportuno pode acender o pavio da aspereza, coisa rara em meu temperamento.

Não gritem perto de mim, não insistam com coisa alguma, não peçam dinheiro emprestado, não tentem me agradar, não me desmintam, não me deixem nervoso, não me provoquem. Hoje quero ficar em paz, sem olhares a minha volta, sem gente esquisita, sem petulantes que não se percebem inconvenientes.

Deixem-me em paz, pelo amor de Deus!
Hoje não estou para ninguém.


terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sobre a inspiração e a eternidade dos versos


EM BUSCA DA INSPIRAÇÃO
Rabiscos soltos no papel,
palavras a serem ditas
ainda sem vida.

Folhas amassadas,
dispensadas e jogadas
na lixeira.

A inspiração teima em fugir
enquanto a caneta aguarda
ansiosa
a magia de um verso
que ganha vida no papel.

As mãos vacilam, tremem...
Eis o drama do poeta
que deseja criar
mas não consegue.

Fica o silêncio
ecoando alma e coração,
poesia que grita em desespero
nos pântanos da criação.

E quando menos se espera
faz-se luz em meio a trevas
na loucura da consciência.

Os versos surgem finalmente,
pululam no papel livremente
como por obra de um milagre.

Trazem magia e encanto,
como água pura da fonte
embriagando de paixão
o seu desejo puro e voraz.

O poeta busca a eternidade...

(Paulo Avila, 2006)

Tudo a seu tempo


TEMPO
As folhas caem,
as lágrimas cessam,
a dor passa
a seu tempo.

As crianças crescem,
os jovens se enamoram,
os idosos ensinam
a seu tempo.

As sementes germinam,
a chuva vai e vem,
as flores desabrocham
a seu tempo.

Os sorrisos se alargam,
a esperança renasce,
um novo dia nasce
a seu tempo.

O perdão suaviza,
o amor acalma,
a amizade fortalece
a seu tempo.

A seu tempo haverá
hora de chegar,
hora de partir,
tempo completo de viver.
(Paulo Avila, 2006)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Egocentrismo


Anseia por vida, ainda que sedento em meio a um deserto de mágoas e ilusões.

Logo aparece um oásis e serás saciado.

Não te prometo nada.

Faze mais por ti mesmo.

Reconstrói o pensar, revitaliza o coração, alimenta a alma com bons livros e boa música.

Viaja mais, mesmo que seja para o mais íntimo de ti: conhecer pessoas e culturas novas é importante, mas nada se compara ao teu autoconhecimento.

Renova-te uma, duas, três vezes. Renova-te quantas vezes for necessário, mas não abra mão dos teus valores, dos teus desejos, da tua individualidade. Ninguém sabe o que é melhor para ti do que tu mesmo.

Não aceites sugestões, nem de mim nem de quem quer que seja. Seja teu próprio guia; constrói tua identidade, tua ideologia.

Caminha, faze teus passos com o teu cansaço, com a tua luta, com a tua vontade.


O que pensam de ti não importa. O que importa é o que és, o que guardas no teu íntimo, o que aprendeste ao longo desta vida e o que podes fazer para continuar crescendo, para contribuir com um mundo melhor.

Sê intuitivo, sensível, racional e emotivo (o mais emotivo possível).

O resto não importa. Rasga tudo o que te mandaram e não queres fazer. Ignora este texto e tantos outros se assim te convém: escreve tua própria lei, transgride hipocrisias oficiais, descarta crenças superficiais.

Sê tua própria crença, sê tua religião, sê forte e capaz de ultrapassar limites.

Direciona tua própria história e te permitas mais. Quebra a casca e alça teu vôo solo. Mesmo que caias, levanta e tenta novamente.

Formula tua própria ideologia.

Às vezes para sermos nós mesmos é preciso enfrentarmos o mundo inteiro.

Marcas do passado

Hoje é uma segunda-feira cinzenta e comum.

O sol não faz visita.

Na verdade, todas as segundas-feiras são assim.

Dentro de muitos corações tudo é tão frio.

Sentem tanta falta de um passado esquecido; um passado de sol, primaveras e sorrisos sinceros; um passado de sonhos puros e esperança; um passado que aqueceu corações sensíveis.

Um passado...

Que passado? Nem se lembram mais...

Só restaram cinzas e um presente vazio, pálido e sem vida.


(Alguém, de uma janela qualquer, em algum lugar do mundo, deseja esquecer o seu passado em queda livre.)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Aliança e juramento


TODOS OS DIAS
Quero passar todos os dias
da minha vida dizendo
"eu te amo
e te quero
para sempre
ao meu lado".
Quero cantar
mesmo sem saber,
escrever poesias
mesmo sem rimar,
só para te mostrar
que és tudo para mim.

E o meu amor por ti
será eterno.

11/07/2007

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A outra parte

O desespero da paixão causa um emaranhado de sentimentos e sensações. O outro torna-se parte de nós.

Gosto da idéia de infinito, de dizer: quero-te pelo resto da minha vida.
Na verdade estamos sempre à procura da nossa outra parte que nos completa. A falta dessa metade é como se faltasse um pedaço do nosso próprio coração.


Quem já encontrou a sua parte, encontrou um tesouro. Cuide bem dela como quem cuida de sua própria vida.


Quem ainda não a encontrou, não desanime. O amor foi feito para todos, todos têm o direito de encontrar uma grande paixão ao menos uma vez na vida, mesmo que não seja para sempre.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Semente / Tempo

Sou semente.

Na terra seca sou semente e quero vingar.

Há um mundo inteiro a ser erguido.

Centelhas de bondade e de esperança germinarão.

Um novo tempo de milagre baterá à porta.

Será tempo de colheita ao coração machucado, à espreita, ansioso...

Tempo de viver.

Sonho pós-moderno


Assisti, em sonhos, ao meu acidente literário em praça pública.

Diante de uma platéia de curiosos, agonizante, num palco de concreto, declamei minha morte alternativa, porém meu fluxo de inspiração ficou desajustado e palavras desconexas libertaram-se do nada da minha mente.

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* * * * * * Creio

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Credo

* Crido

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * Pai poderoso pobre

* * * * * * * * * * * Cristos mortos amém



* Caso caso casulo


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Cosmopolita


* * * Prece preceito preconceito


* * * * * * * * * * * * * * * * * Basta bastardo brasa


* * * ** * * * * * * * * * * * * Pragas Pragmatizado


Desencanto * * ** * * sem canto * * * * * * * * * sem partes


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Alienado aflorada afora
*Despoetizado

*

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Out of date

(Pedaços de poemas na calçada, pisados pelos transeuntes que não sabem para onde vão.)

Reset


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*

Acordei assustado, sangrando e vomitando poemas pós-modernos.

Introspecção

Escrevo por compulsão.

Não sei o que escrever, mas escrevo.

As palavras me escravizam e me libertam. É uma relação paradoxal entre criador e criatura.


Realizo-me na introspecção, na solidão na alma.

A melancolia é conforto e me faz sentir mais – dores e misérias alheias são minhas também. Acostumei-me a sofrer pelo mundo.

As lágrimas insistem em querer cair. Faço força pra impedi-las, faço-me de forte, mais forte do que na verdade eu sou. Mas me sinto bem assim.

Continuo diante do computador, não encontro meu reflexo na tela: encontro apenas um mundo vasto de ilusão e solidão virtuais (reflexos dos esconderijos que nossas almas se acostumaram a construir).

Onde está o mundo real? Onde posso respirar, sentir calor humano, fazer parte do mundo?

Em alguma parte de mim estou escondido, adormecido, prestes a explodir e expandir meus conceitos, minhas anarquias, minhas fraquezas e minha subjetividade.

De todos os pesares, o que mais me fascina é a possibilidade que tenho de ser eu mesmo.

O tempo me escorre pelos dedos

Estou enlouquecendo... Por causa do trabalho, dos estudos, da preguiça e do desânimo que hoje me consomem.

Talvez um dia alguém bata à minha porta com um sorriso e me traga notícias de sonhos distantes, fale de mundos desconhecidos e ainda não corrompidos, de coisas que já havia esquecido...

Não tenho novidades para contar. A última já nem me lembro mais quando contei... E por não me lembrar mais (se é que existiu um dia), deixou de ser novidade – já é passado.

Há muita gente por toda parte e muita solidão dentro de cada um. No fundo todo mundo é sozinho em meio à multidão, não sei por quê.

Eu queria poder voar, sorrir, andar despreocupado, sem compromissos e sem hora para tudo. Estou de saco cheio de ter hora marcada, por isso faço questão de me atrasar para ir ao trabalho ou à universidade. Para que correr?

O tempo me escorre pelos dedos, a idade deixa marcas aqui e ali... Mesmo assim não tenho pressa.


Já corri demais e ganhei muito pouco. Hoje quero continuar meu caminho, colhendo utopias como quem colhe rosas. Mas sem pressa.

O que existe é o que está acontecendo, é o presente-produto das lutas e das decepções de cada dia.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Renascendo


Não quero formas humanas perfeitas.

Quero, antes de mais nada, conteúdos humanos perfeitos, simplicidade, sensibilidade, desejo puro e sem máscaras, magia que seduz.

Saiam fora da minha frente os que gritam, os que perdem a paciência por nada, os que se vangloriam por se acharem maior que os outros por causa de sua posição sócio-econômica.

Fiquem bem longe de mim!

Não quero ver na minha frente pessoas racistas, preconceituosas, que oprimem e criticam os que não vivem de acordo com suas regras hipócritas.

Quero a liberdade do ser humano de forma integral, sem condições. Não me venham falar em moral e virtude, em puritanismo e demagogia.

Quero consistência nas relações, limpidez nos sentimentos, espaço para crescer, para superar barreiras... Quero ser semente e girassol, amante apaixonado do mundo, folha verde, profundidade, lagarta / borboleta, eclosão de sentidos, gozo, orgasmo, nirvana...

Quero ser esperança nesta vida em meio ao caos anunciado. Quero ser a antibomba apocalíptica: o botão da flor que a criança segura sem medo e sorri.


A chuva passou, os mortos calaram-se, os vivos erguem-se, o azul cresce em meio ao cinza...

A vida sobrevive, renasce em meio aos escombros, na geleira dos corações sem compaixão.

Somos a resistência dos ideais, dos diferentes que erguem a bandeira na luta por direitos iguais.

Fora do caminho, hipócritas! Estamos passando.

E queremos vida.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Transgredir


Não quero a austeridade da santidade.

Quero a embriaguez do pecado, a liberdade dos sentidos, a intuição, o desejo.

O artesanato das idéias, a laboriosa fadiga de viver e construir.

Quero complexidade e humanidade.

Necessito respirar, existir, transgredir conceitos e tradições.

Eu sou eu, de corpo e alma, fonte inesgotável de sonhos e possiblidades, ainda que a razão diga não. Sou do tamanho do mundo. Sou parte de tudo e de nada espalhado por toda parte, com desejo de interagir.

Digo: EU sou, EU quero, EU posso.

Meus trinta e um anos com Machado de Assis


Eu sei: neste ano comemoramos o primeiro centenário sem o grande escritor Machado de Assis.
Assim, vemos as escolas preparando homenagens, feiras de livros dando ênfase ao nosso escritor, concursos... Enfim, os meio literários e acadêmicos fazem tudo para mostrar a importância desse homem. Compreendo bem isso e concordo: ele merece todas as homenagens (possíveis e impossíveis) por tudo o que ele nos deixou escrito.

Mas meu caso com Machado de Assis não passa pelo centenário de sua morte. Minha história com ele se baseia na sua vida literária. Logo, para mim ele continua vivo, falando nas palavras, nas construções semânticas e sintáticas que pululam aqui e ali, com sentidos vários, como se ele risse da nossa cara, mostrando o que aparentemente encontra-se encoberto ou nas entrelinhas: “Mas você não está vendo?”, é a voz que ouço no funda da minha consciência.

É verdade! Nem tudo o que parece ser de fato é. E a magia do Machado é esta: fazer com que o leitor pense, reflita, sinta, tire conclusões, acompanhe o seu raciocínio. (Neste momento sinto que agora, sabendo que eu escrevo sobre ele, Machado de Assis novamente está rindo, desta vez sem a sua sagaz ironia, mas de satisfação.)

Mas, como eu estava dizendo (meu Deus, estou cometendo digressões, tal como Brás Cubas em suas memórias póstumas!), meu caso literário não se passa pela comemoração de seu centenário funesto. Isso porque eu não o conheci em vida, então não posso dizer que ele morreu. (Eu sei o que vocês estão pensando: eu estou sendo irônico como o nosso escritor). Tudo bem, talvez seja verdade, mas minha relação com ele se dá em vida, pulsa nas suas palavras, nas suas histórias, sejam as puramente simples e românticas, sejam as realistas mais complexas.

O que estou querendo dizer é que Machado está vivo para mim, ele fala comigo em seus livros, pela boca de Bentinho, Capitu, Escobar, Brás Cubas, Aires, Quincas Borba, Helena, entre tantos outros... Ontem mesmo ele me falou algo através de Bentinho, que logo percebi: “Lá vem você de novo! Não, meu amigo Machado, você está querendo me enganar de novo. A resposta está do avesso!”

Compreendê-lo não é nada fácil, mas conheci uma professora de Literatura na faculdade chamada Regina, que conversa com ele há muito mais tempo que eu e me ensinou a conversar com ele também, a ouvi-lo e tirar conclusões. Mais: ensinou-me a admirá-lo como poucos merecem. Desde então, não paro mais de conversar e trocar idéias com esse amigo-gênio literário.

São meus trinta e um anos com Machado de Assis, o maior escritor da nossa literatura. Vocês podem comemorar o centenário da sua ausência, façam o que bem entenderem: festas, missas, minuto de silêncio, recitais... É um direito de vocês. Mas me deixem aqui comemorar meus trinta e um anos com ele, vivo na memória e em cada palavra, em cada história, em cada livro que ele ousou escrever, tornando-se assim eterno pela palavra – a palavra bem usada, apaixonante, apaixonada. A palavra de Machado, com louvor, humanamente divinizada em meu (nosso) mundo.

Compreender uma mente tão complexa como a dele não é tarefa fácil para qualquer um. E, me desculpem, quem quiser uma leitura fácil que vá ler Paulo Coelho! Estou mentindo?
Aos leitores e apaixonados por Machado de Assis como eu, só resta dizer: “Que assim seja, amém!”