segunda-feira, 16 de março de 2009

O canto do cisne

Tanto faz
se chove ou se faz sol,
meu espírito é sempre o mesmo
nublado e angustiado.

Sei tudo sobre tudo o que não sei,
tenho ânsia de mudar,
de transgredir,
de ser melhor.

Mas esbarro sempre em mim mesmo:
Sou meu grande inimigo,
meu algoz, meu impostor,
meu lado mais podre
que se revela como uma flor
na primavera doente.

Decente?
Já deixei de ser.
Espírito sujo e amarrotado
encontrado na sarjeta,
no lixo da consciência humana
mais suja que tudo.

Não faço mais promessas de ser melhor,
nada disso me importa mais.
Assumo toda forma de deficiência
física, moral, psicológica ou espiritual.

Deixe-me ser doente,
discípulo tardio de Augusto dos Anjos
e Álvarez de Azevedo à beira da morte
agonizando no leito de um mal incurável.

(Morto e enterrado em vida.)

Paulo Avila

Um comentário:

___Psiquê___ disse...

Somos nossos próprios algozes. Caçadores de nós mesmos. Vítima e réu...."A vida me fez assim /
Doce ou atroz, manso ou feroz /
Eu, caçador de mim..."