segunda-feira, 18 de julho de 2011

Panaceia

Estradas que não levam a lugar algum.
Vitimados, o sol machuca.
Ofuscados, lágrimas secas caem pelo rosto.
Prosseguimos.

Guerras,
fome,
miséria.
Nada de novo.

A vida prossegue a triste sina
entre barrancos e trincheiras,
entre mortos e feridos,
entre cinzas e o sol nublado,
entre o pensar e o esbofetear,
entre o perigo e a invalidez.

Árvores e rios imaginários.
Um barco ao longe dá adeus.
Mas não há rios, não há mar,
muito menos amar.
Não há mais vida.
Para onde iremos?

Um cão passa, não ladra;
uma mulher estende roupa no varal;
um ladrão é aplaudido no telejornal.
Tudo está normal.
Nada de novo.

Camisinha e aspirina.
Aborto e dor de estômago.
Meninos delinquentes.
Escolas e prostíbulos.
Dinheiro e esmola.
Bandido e mendigo.
Nada de novo.

Sabemos pouco do futuro,
mas conhecemos bem o presente.
E o presente é podre.
O passado foi incrédulo,
absurdo,
como o absinto abusivo,
como o Brasil e os retardados,
como o fanatismo em dias de religião,
como a profanação dos ideais.

O absurdo é cotidiano,
é comum,
é familiar.
Somos aburdo.
Nascemos assim.
Morreremos absurdo,
ignorantes,
ignorados,
ignóbeis.

Renasceremos?
Talvez...
em meio a canibais,
em meio a abutres e urubus,
em meio a um lixão,
placentas e fetos,
restos químicos,
restos mortais,
restos de comidas
de que nos alimentaremos...

E virá uma velha, úmida e tímida aurora.

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