sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alguns versos da meia-noite

FRAGMENTOS
Caí de um sonho perfeito
e, sobre o asfalto,
minha vida, num devaneio,
partiu-se em vários eus.

Essência multifragmentada de mim.

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PRÉ-PRIMAVERA
Acordo ou regresso.
Tenho a alma à venda
e flores na sacada.

Sinto a vida cansada
cansar-se de mim.
A saúde debilitada
requer e pede sossego.

Nada me importa,
nada me fascina,
nada me ilumina.

A primavera não virá:
morrerei antes
por entre jasmins
e serafins.

E assim,
renascerei
entre crisântemos
e damas da noite
quase murchas.

A vida parece
um fugir de si mesmo
para a ilha dos sonhos
náufragos
mortos
sem
fim.

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ANTES DO DESPERTADOR
Ai de mim,
minha flor,
deixar-te só
assim
no inverno.

Envolve-me
na cama,
no ninho,
que é só nosso.

Hibernemos,
gozemos
o amor
que sufoca,
liberta
e extasia.


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DEUSA
Profana
engana,
reza
contrito
pelas almas daqueles
que padecem no paraíso.

Pungente olhar,
deusa
que enlouquece
toda minha vida.

Fazei-me gozar,
no inferno,
no paraíso,
no purgatório,
em qualquer lugar.

Após Afrodite
serás Virgem Maria,
ídolo da carne,
devoção dos pagãos
sedentos de amor.

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