PAIRANDO
Por aí
paira um tempo
perdido,
pérfido,
partido.
Tempo de loucos,
de horas marcadas,
de cartas na mesa,
de segredos revelados
sob o véu da pureza.
Tempo de saudosismo,
de achismos,
de contas atrasadas a pagar,
de anseios e solidão
numa sala de cinema ou num bar.
Tempo de esperas
que não se pode mais esperar,
nem aqui nem em outro lugar,
pois a vida grita e, não-liberta,
quer se emancipar.
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ANTES E DEPOIS
Perdi-me.
É estranha essa sensação de não me ter.
Parece que nada será como antes.
Mas como era antes?
Não me lembro...
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VOO DO CORAÇÃO
Asas do limite...
Gaivotas singram céus e mares...
Parecem o meu coração
que voa por toda parte.
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RETRATO
Não tenho direção,
apenas me acostumei
às pétalas que a roseira morta,
despedaçada,
chorou.
Não percebi
que meu erro era meu medo,
minha casa, santuário
e meu sorriso, um retrato na parede
que ninguém pintou,
ninguém viu,
ninguém quis.
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SENSABOR
Tenra idade
já amadurecida.
Fotos recentes,
fronte enrijecida.
O olhar
num recanto,
numa estação.
Os lábios,
num beijo,
doce ilusão.
No relógio,
o querer,
o ser,
o sentir
em tom blasé.
Cascas, folhas secas.
Marcas do que ficou
e do que virá a ser,
sem ser,
sem saber.
Dor...
doa a quem doer,
sem favor,
pelo interior
sensabor.
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PARTIDO
Maculei a alma
com vasos de flores,
incensos
e o teu sorriso.
Senti-me tão feliz!
Na solidão do quarto,
encontrei-me
a esperar por ti.
Sem tua presença,
falta-me uma parte,
um aparte,
um terço
de mim,
restam-me
rosários
e lamentos.
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GUERRA EM MIM
Aglutino perdas,
pecados,
danos
e contramão.
Revelo-me inteiro,
falso mosaico de dúvidas e imperfeições
desprezando intenções
e convenções.
Meio cético, meio cristão, meio niilista,
um pouco de tudo, nada e um pouco mais,
sendo contraditório em mim
e inventando fugas
em matas virgens
e queimadas.
Fugindo
e equecendo-me de quem eu sou:
um desatino,
um transtorno bipolar passageiro,
como dor de cabeça,
como castigo,
punição
e absolvição.
Uma bandeira da paz
hasteada
em meu coração.
Trégua em tempo de guerra.
Guerra em mim.
sábado, 27 de agosto de 2011
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