segunda-feira, 15 de agosto de 2011

TÊMPERA DO TEMPO
Poucos sonhos.
Pecados jogados ao vento.
Pela janela, adeuses e despedidas.
Tudo normal, tranquilo, irreal.

Venta vento vendaval,
folhas do outono
em outra estação.

Fala falácias,
emudece segredos,
jorra lágrima
seca.

Pensa.
Reflete.
Suicida.
Retrocede.

Ainda assim
desfalece,
acorda
do sonho
de um sonho
de outro sonho.

Regurgita, em transe,
pequenas desarmonias,
traços de tudo em nada.
Sê pardo,
parco,
passo,
pasto,
opaco.

Separado.
Sê mórfico intuitivo.
Boçal,
bucal,
beijo,
rijo.

Catastroficamente,
insano e são,
reparo reparos,
cortejo prostitutas virgens
em plena catedral.

Olho cegamente.
Extravio rotas,
rosas
roxas
em postais.

Extravio-me
do certo,
do politicamente correto.

Amo-vos, marginais,
heróis do absurdo,
anjos da morte eterna.

Amo o erro,
a desvirtude,
o desregro,
a cara suja após o banho
diante do espelho,
dos estilhaços.

Na insônia adormeço.
Pondero.
Busco limites
no infinito que se abre
por trás da janela.

Sou louco,
poeta,
ladrão de rosas de santos
no altar.

Ínfimo,
ignóbil,
anônimo,
desconhecido,
desprezado.

E, num momento derradeiro
de lucidez,
faço-me novo
de novo
envelhecido
e enrugado
pelo tempo -
esse senhor senil e caduco
que me aprisiona em histórias
de um passado-fantasma.

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ADORMECIDO
Então,
pena, pensa e despensa.
Despenca em queda livre
do alto do seu prédio de ilusões
derradeiras e passageiras.

Ouve o tilintar da goteira na pia,
a monotonia do relógio,
os cães que ladram nas ruas.

Ouve.
Só ouve.
Só pena.
Pensa.
Despenca.

Desfigura a imagem
que têm de ti:
ela é falsa
e não convém.

Antes promove desordens,
mancha a pureza
com pedaços de pecado,
como um pouco de lama
jogada por algum menino de rua
no lençol branco que estava no varal.

Ah... adormece em pesadelos,
em paralisia do sono,
em paralisia moral,
em infortúnios
e vagas lembranças.

Adormece...
adormece...
adormece...

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SONHO PUERIL
Meu sonho
        de
        criança
        tímida
          des
             pen
                cou-
s
e

r
o
l
o
u

e
 s
  c
   a
    d
     a
    
a
b
a
i
x
o

como
uma
    o
b      l
    a

que
se
perde
no
T e m
p
o
em câmera  l  e  n  t  a...

Como um
trem trem trem trem trem
que
se
v   a   i
e
não
volta
m a i s...

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ANOITECER DE MIM
Refém de mim.
Recantos da alma.
Receios.
Recaídas.
Réquiem.

Em plena praça pública
cato os restos do dia
e permaneço
mudo,
imóvel.

Anoiteço.


2 comentários:

Unknown disse...

Gostei dessa poesia"TÊMPERA DO TEMPO"
palavra viva para mim é como um manifesto.Você deixaria que ela fosse publicada no meu blog?

Paulo Avila disse...

Desculpe não responder antes, João Henrique! Claro que pode!