segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Meus trinta e um anos com Machado de Assis


Eu sei: neste ano comemoramos o primeiro centenário sem o grande escritor Machado de Assis.
Assim, vemos as escolas preparando homenagens, feiras de livros dando ênfase ao nosso escritor, concursos... Enfim, os meio literários e acadêmicos fazem tudo para mostrar a importância desse homem. Compreendo bem isso e concordo: ele merece todas as homenagens (possíveis e impossíveis) por tudo o que ele nos deixou escrito.

Mas meu caso com Machado de Assis não passa pelo centenário de sua morte. Minha história com ele se baseia na sua vida literária. Logo, para mim ele continua vivo, falando nas palavras, nas construções semânticas e sintáticas que pululam aqui e ali, com sentidos vários, como se ele risse da nossa cara, mostrando o que aparentemente encontra-se encoberto ou nas entrelinhas: “Mas você não está vendo?”, é a voz que ouço no funda da minha consciência.

É verdade! Nem tudo o que parece ser de fato é. E a magia do Machado é esta: fazer com que o leitor pense, reflita, sinta, tire conclusões, acompanhe o seu raciocínio. (Neste momento sinto que agora, sabendo que eu escrevo sobre ele, Machado de Assis novamente está rindo, desta vez sem a sua sagaz ironia, mas de satisfação.)

Mas, como eu estava dizendo (meu Deus, estou cometendo digressões, tal como Brás Cubas em suas memórias póstumas!), meu caso literário não se passa pela comemoração de seu centenário funesto. Isso porque eu não o conheci em vida, então não posso dizer que ele morreu. (Eu sei o que vocês estão pensando: eu estou sendo irônico como o nosso escritor). Tudo bem, talvez seja verdade, mas minha relação com ele se dá em vida, pulsa nas suas palavras, nas suas histórias, sejam as puramente simples e românticas, sejam as realistas mais complexas.

O que estou querendo dizer é que Machado está vivo para mim, ele fala comigo em seus livros, pela boca de Bentinho, Capitu, Escobar, Brás Cubas, Aires, Quincas Borba, Helena, entre tantos outros... Ontem mesmo ele me falou algo através de Bentinho, que logo percebi: “Lá vem você de novo! Não, meu amigo Machado, você está querendo me enganar de novo. A resposta está do avesso!”

Compreendê-lo não é nada fácil, mas conheci uma professora de Literatura na faculdade chamada Regina, que conversa com ele há muito mais tempo que eu e me ensinou a conversar com ele também, a ouvi-lo e tirar conclusões. Mais: ensinou-me a admirá-lo como poucos merecem. Desde então, não paro mais de conversar e trocar idéias com esse amigo-gênio literário.

São meus trinta e um anos com Machado de Assis, o maior escritor da nossa literatura. Vocês podem comemorar o centenário da sua ausência, façam o que bem entenderem: festas, missas, minuto de silêncio, recitais... É um direito de vocês. Mas me deixem aqui comemorar meus trinta e um anos com ele, vivo na memória e em cada palavra, em cada história, em cada livro que ele ousou escrever, tornando-se assim eterno pela palavra – a palavra bem usada, apaixonante, apaixonada. A palavra de Machado, com louvor, humanamente divinizada em meu (nosso) mundo.

Compreender uma mente tão complexa como a dele não é tarefa fácil para qualquer um. E, me desculpem, quem quiser uma leitura fácil que vá ler Paulo Coelho! Estou mentindo?
Aos leitores e apaixonados por Machado de Assis como eu, só resta dizer: “Que assim seja, amém!”

Um comentário:

___Psiquê___ disse...

Amém!!! Adorei o post sobre Machado!!! “Dom Casmurro” é o meu xodó(um grande amigo me deu de presente)!!! Gostei muito de “A mão e a luva”.