quarta-feira, 1 de junho de 2011

Algumas (des)inspirações da alma

As palavras gotejam,
tomam vida
pré-casulo.

A alma pueril
pastoril
de poeta
se manifesta.

A vida,
muito além da inspiração
envereda-se por aí,
nuvem em céu azul.

Possivelmente
ardo em febre e paixão,
por ter em mim
a magia
da poesia.

Doce invocação,
incansável peregrinação
a cada verso,
a cada rima desfeita
pela emoção
de poetar.

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Sonho.
Transpiro mais que o normal.
O sono leve e inconstante.
A manhã fria acorda
e me acode
sem razão.

Levanto-me a duras penas.
Olho-me no espelho.
Não me reconheço.
Sou o mesmo, mas sou outro.

Envelheci?
Morri?
Decerto, não.

Porém, algo em mim mudou,
metamorfoseou-se.

Sou cópia perfeita de mim,
infância tardia,
retrocesso,
pesadelo juvenil.

Venço o medo,
a timidez.

Reinvento-me.
Tardo.
Escurecido em memórias,
fantasmas,
vazio.

Aglutino,
reparto-me.

O que sobra?
Eu.
Inteiro
em sonhos decepados.

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Desfalece a última esperança.
O corpo cansado espera.
Ai de mim resistir
à minha própria vontade.

Perece a fina flor
em terra árida,
imoral.

Desterra o mito,
narciso
sem espelho.

Deduz.
Pondera.
Crianças na calçada.
Sirenes.
Para casa,
todos para casa.

Ficção em tempo real.
Vigie.
(Quem? Por quê? Onde?)
Minhas condolências
aos filhos da puta marginalizados
que fedem em seu peito murcho
não nascidos, escarrados.

Triste e belo destino.
Trocados.

O pão nosso de cada dia dai-nos hoje.
Caiamos em tentação.

Um grito.
Escuro.
Sangue.
Fodam-me - é o que ela grita,
com lágrimas de medo,
com o desejo prostituído,
com o hálito faminto,
sem passado, sem presente, sem futuro aparente,
sem glória, sem certo e errado.

E a ciranda continua girando viciosamente.

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Eu sei.
Minha poesia não tem sabor,
minhas palavras são duras
e sem pudor.

Não são límpidas,
muito menos apaixonantes.

Meus ideais são mundanos.
Minhas ideologias, transgressoras.

Mas entendas, meu bem,
o amor transborda em mim
e em oferenda me faço teu.

Podes me provar,
podes me devorar,
podes fazer de mim
tudo o que quiseres.

Sou teu,
num laço eterno,
eterna primavera
a despontar diante de nós.

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