quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Um pouco de mim em versos...


PLURALIDADE
Procurei-me
despido de fugas
e aparências

encontrei-me
no íntimo de mim
disposto a sussurrar
à minha própria consciência

eu sobre mim

diversificando-me
vasta e monotonamente

multiplicando-me
na pluralidade
do meu eu
(2006)

PARADOXOS
Sou de toda parte
e de lugar nenhum;
estou fora de mim
e dentro do mundo afora.

Sou como folhas amarelas
em ramos secos;
sou como o sol triste
numa tarde nublada.

Estou em tudo e em nada
ao mesmo tempo;
fora de compasso
e suspenso no espaço.
(2006)



TENHO DIAS
Tenho dias em que sou do mundo
e outros em que sou só meu

Tenho dias em que sorrio
e outros em que choro

Tenho dias em que grito
e outros em que silencio

Tenho dias em que amo
e outros em que desamo

Tenho dias em que faço tudo
e outros em que deixo tudo por fazer
(2006)

DESNUDO
Nada sei do mundo,
quase nada sei de mim,
só sei que o meu coração
é um tolo apaixonado.

Nada sei da vida,
sou ainda muito ingênuo para saber,
mas sei que tenho um sentimento
que não posso ignorar.

Nada sei do amor,
mas apesar de tudo amo,
amo como um louco
sem ter como evitar.
(2006)



NO SILÊNCIO
Silencio a alma,
entrego-me ao abandono
na paz vazia,
na solidão tardia.

O vento me acalma
na tarde cinza.

Será que enlouqueci?
(2006)

PLÁGIO
Tenho tantos sentimentos em mim
que às vezes quase me convenço de que sou sensível.
Não sei bem ao certo o que estou sentindo.
Acho que estou apenas plagiando Pessoa.

Todo poeta é um ladrão de idéias, romances,
pensamentos e dramas afetivos.
Não sou exceção.
Na verdade, nem poeta eu sou.

Apenas cato versos no lixo da consciência alheia
sem dar ao trabalho de reciclá-los.

Vivemos como flores daninhas na lama.
(30/01/2007)



DELÍRIOS DO POETA APAIXONADO
Aflora em mim o odor agonizante
da paixão entorpecida
como flor recém nascida
à espera do beijo do beija-flor.

Sem abrigo, aparentemente exposto,
desbravando segredos do coração.
Na timidez das palavras,
metáforas inocentes,
algumas pétalas, versos-borboleta.

Na insensatez, a delicadeza de um toque,
a pele reveste o corpo de mistério.
Sigo obstinado como o girassol,
amando entre nuvens.

Sinto e escrevo.
Pareço brisa leve na primavera
brincando no rosto da menina,
como num sonho maravilhoso
do qual não se quer mais acordar!...
(14/03/2007)

IMPRESSÕES
Sou homem-criança-adulto-menino
que o tempo tratou de enrugar
sem deixar perder a inocência.

Ao olhar o baú das recordações
vi tanta coisa que fiz
e tantas outras que deixei por fazer.

Hoje meu olhar parece mais triste,
mais sóbrio, consciente dos sonhos
que podem sair à luz e dos que devem ficar
guardados na escuridão da alma
por tempo indeterminado.

A vida é azul com tons cinza
entre um dia e outro de glória e decadência.
Não me importo com as palavras
que não vêm do meu coração –
isso já não me machuca mais.

Dou ainda meus primeiros passos
como um eterno aprendiz da infância
e não acho isso tão pouco assim.

Se eu pudesse voltar atrás
talvez não seria mais feliz,
mas nada sei do que existe,
só posso falar do que sinto.

Não há consenso em mim,
sou vários, múltiplo indivisível.
Minha metamorfose constante
me permite ver o mundo por diversos ângulos.

Sou assim,
excedente dos excessos,
único, diversificado em fragmentos frágeis.

Vazio, quase triste, pleno,
sensível no concreto e nas ilusões,
no olhar de menino que perdeu a inocência.
(15/05/2007)


PROCURA-SE
Ando à espreita,
à procura de mim.
Não me encontro.
Onde estou?

Procurei no desabrigo,
na lama,
nos lírios mortos.

Não me encontrei.

Estou por aí,
espalhado por toda parte,
bem longe de mim.
(15/11/07)