segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Um poema para cada momento





Acredito que exista um poema para cada momento da minha vida.

Escrever, na verdade, é um misto de prazer / obrigação / necessidade.

Escrevo meus versos para me sentir vivo, para poder respirar melhor, para lembrar que a vida existe, para me sentir aliviado, para continuar acreditando que é possível sonhar.

Selecionei alguns dos poemas de que mais gosto ou que, pelo menos, nasceram de uma necessidade minha de expressar algum desejo, algum sentimento bom ou ruim, para deixar transparecer o estado da minha alma.

Por que faço isso? Sinceramente não sei. Apenas escrevo, sem me preocupar com rimas ou métricas, movido pela paixão e pela emoção que as palavras me proporcionam.



1. O poema abaixo escrevi num momento de raiva; é uma resposta às pessoas que esperam muito de mim, que me bajulam para conseguir algo ou que me criticam por eu ser como sou. Tenho a minha individualidade e não tenho vocação para santo.

ADEUS, CONVENIÊNCIAS!
Não tenho medo do que sou,
do que ainda desconheço em mim,
das utopias que criei à minha volta
somente para agradar aos outros.

Não sou anjo,
não sou santo,
não sou o que pensam,
aprendi a ser falso em casos de emergência,
me faço sensível apenas para escrever.

Já disse: tirem de mim esse invólucro que não pedi.
Não me façam um ser acima de qualquer suspeita,
sou réu e condenado até me provarem o contrário.

Tirem-me as amarras que me prendem às tradições,
não quero ser juiz e voz ativa em todas as ocasiões.
Não preciso de fatos e álibis,
não preciso de gente falsa atrás de mim
sorrindo e dizendo que eu sou importante.

Sou especial para mim e isso me basta.
Se eu deixar de existir haverá ao menos
uma inscrição em minha lápide
que ainda não escolhi.

Escolham, façam o que bem entenderem
quando eu não estiver mais aqui.
Não me importo com o que fizerem para mim.

Adeus, conveniências!

20/10/2006



2. O próximo poema fala de um momento de solidão, de me sentir uma gota d’água na imensidão do oceano. Engraçado que gosto muito da palavra “cinza” nos meus poemas. Uma amiga minha até brinca comigo sobre isso.

MUNDOS E DESMUNDOS
Cinza é a vida
quando incompreendida;
parece solitária e incapaz
diante da violência humana.

Eu entendo códigos,
reflito pesares,
destruo preconceitos.

Mas mesmo assim tudo parece
tão pouco.

Vozes gritam em silêncio,
sorrisos choram,
máscaras alegres escondem
uma tristeza carnavalesca.

Eu me faço assim,
entre mundos e desmundos:
cosmopolita;
eremita;
pacifista;
franciscano;
tibetano.

Um pouco de mim
em tudo e em nada.

Mas mesmo assim tudo parece
tão pouco.

E pelo mundo
canto os desenganos,
as imprudências,
as esperanças que brotam
entre os espinhos.

23/10/2006.



3. Mais solidão e reflexão dolorida sobre a vida:

ESPÍRITO LIVRE
À procura de um amor,
à procura de paz,
à procura de mim.

Perdido em sonhos,
devaneios,
meio disperso,
espalhado pelo mundo.

Como vento,
folhas levadas pelo destino,
fruto à véspera de amadurecer,
larva no casulo esperando nascer.

No escuro
aguardando amanhecer,
entre lágrimas verdadeiras
em busca de um futuro.

Nasce o dia.
Estou vivo.
Atento.
Ferido.
Amante latino do mundo.

Entre o beijo e o acaso.
Entre a fé e o descaso.
Entre o amor e a amizade.
Entre a perda e a saudade.

Eremita,
caminhando sem destino
entre os escombros do dia-a-dia.

Viver é o bater de asas de uma borboleta
na descoberta além casulo.

Nada mais que isso.

27/11/2006



4. Bem, eu disse que gostava de usar a cor “cinza”...


CINZA
A chuva que cai
me deixa introspectivo.
A saudade deixa em meus lábios
um gosto diferente.
Parece lágrima.

Perco-me na ilusão cinza da vida.

12/01/2007


5. Até que enfim um poema mais otimista:

GERMINANDO
Há vida através dos meus olhos
que perpetuam a beleza das flores murchas.
Há um dia maravilhoso diante de mim
que ainda desconheço.

Cresço a cada dia.

18/01/2007



6. Quando encontrei o amor da minha vida, não parei mais de escrever poemas de amor. A “culpada” por tudo isso chama-se Silvana. Este é um dos que mais gosto:




TUA PRESENÇA
Perco-me pelo ar,
fico a pensar
na pureza do teu olhar.

Tem tanta magia,
ternura e calor
que me vejo a sonhar!...

Fico em silêncio
diante de uma suave canção:
tua voz a me acalentar.

Preciso de ti,
da tua presença,
do teu sorriso em flor.

Quero eterno esse instante,
esse momento especial
ao teu lado.

Quero a tua mão na minha,
quero ver o tempo parar
diante de nós.

E assim sonhar,
quem sabe dizer,
tudo o que sinto por ti!...

21/01/07


7. O poema abaixo é resultado de um acontecimento triste que vi no telejornal.


SENTIMENTO
Sinto-me impotente diante das tragédias da vida,
diante das pessoas sofridas que caminham sem destino
à procura de dias melhores,
de um sorriso de compaixão,
de calor humano e atenção.

Sinto-me um na multidão,
na geleira dos sentimentos dos que vão e vêm por aí
com as suas fisionomias cinza e sem vida.

Sinto-me morto por dentro
enquanto todos estão mortos-vivos para o mundo
e não se dão conta disso.

Sinto-me eu mesmo,
e sangro,
sofro,
sozinho
em desvario.

Sinto-me vazio
num mundo sem sol,
sem vida, sem perspectivas,
com flores de plástico
na sacada dos prédios dos suicidas
e das crianças tristes que não podem brincar lá fora.

É perigoso, sinto muito.
Sinto.

Viver é pior que sentir.
Não entre na contramão,
é perigoso.

Sinto muito.
Sinto.

É um sentimento que se universaliza
em meu eu-lírico alucinado e esfarrapado.

Sofrimento em massa,
anestésico,
ópio do povo,
carnaval em tempo real,
miseráveis felizes alienados.

Estamos sem destino.
Sinto muito.

Sinto.
Sinto.
Sinto.

03/05/2007


8. A vida é feita de lutas e de beleza, apesar das dificuldades:


DIA APÓS DIA
O tempo,

a vida,
a luta
de cada dia.

A esperança
que enobrece a alma,
a fé
que não abala,
os sonhos
que não são apenas ilusão.

A força que se tem
diante da queda,
da dor,
do fracasso.

As vicissitudes,
os percalços,
as derrotas.

As lições da vida,
a aurora do novo dia,
a superação.

A vontade de crescer,
de vencer,
de agir,
de voar,
de gritar
e se libertar.

Ser feliz, enfim...

Mas que seja perto de ti.

11/07/2007




9. Acho que uma das coisas que faltam ao mundo é a empatia. Sentir a dor do outro é muito mais do que ter pena...


EMPATIA
Quero chorar a dor dos que sempre perderam,
dos que nunca foram felizes sem máscaras,
dos mortos em tragédias,
dos desvalidos em miséria,
dos que se esqueceram de sonhar
ou passaram em branco pela vida.

Quero chorar a perda dos que morreram
antes mesmo de terem nascido,
a perda dos que sobrevivem de nada
e se alimentam da covardia e indiferença alheias.

Quero chorar minhas lágrimas
e pedir perdão aos que têm os seus direitos negados,
aos simples e humildes de coração
jogados pelos cantos,
condenados ao silêncio
e à exploração.

Almas de cimento enfeitam a cidade fria.

08/08/2007



10. Hoje é o dia certo de dizer a quem amamos o quanto elas nos são importantes. Amanhã pode ser tarde demais...


SE EU SOUBESSE QUE MORRERIA
Se eu soubesse que morreria hoje
rasgaria todos os meus rascunhos,
deletaria arquivos,
deixaria o quarto arrumado.

Talvez deixaria mal escondidos
alguns versos que chamo poemas,
para que me fizessem sempre lembrado,
que fizesse alguém chorar de saudade.

Diria mais vezes “eu te amo” para a minha namorada
e pediria perdão pelas vezes em que a fiz sofrer;
me reconciliaria com meus inimigos
e diria o quanto meus amigos são especiais.

Abraçaria em lágrimas minha mãe
grato pelo amor incondicional
que a mim devotou a vida inteira.

Daria mais atenção ao nascer e ao pôr do sol,
buscaria na simplicidade da vida o essencial,
mesmo que eu não tivesse mais tempo para isso.

Escreveria em pouco tempo um breve resumo da minha vida
e o lançaria ao mar numa redoma de vidro;
talvez alguém pudesse ler e, assim,
me tornaria eterno.

Se eu soubesse que morreria hoje...
Ah, faria tudo o que nunca fiz
e nesse pouco tempo que me resta
me sentiria feliz por ter vivido a minha vida
e sentido com o coração cada instante que é
esse milagre de poder respirar
e enxergar beleza por toda parte
tendo feito assim tudo valer a pena.

08/08/2007


11. O amor é o bálsamo para o meu coração, para a minha alma, para toda a minha (nossa) vida.


EM UNIÃO
Há tanto conforto nos teus braços,
há segredos nos teus lábios
que ainda hei de revelar
nos beijos, no desejo,
no sentido mais profundo
entre a razão e a emoção,
entre o amor e a paixão.

Há tanto sonho em ti
que tenho até medo de dormir,
perder-me, perder-te,
esquecer quem sou ao despertar.

Há tanta graciosidade no teu rosto,
tanta beleza no teu corpo,
no teu toque,
que morro em ti,
renasço,
alcanço o nosso céu particular.

Há felicidade prometida e realizada,
há sinais no olhar
que falam pela boca,
exprimem, exigem prazer,
muito mais que o limite,
excesso, excedente, novamente.

Há dedos, mãos, união,
há beleza imaculada que não se perde,
há noites serenas, tempestades amenas,
pensamentos, direções opostas que se encontram.

Há o que há e o que deve haver
em mim, em ti, em nós,
sem nós, sem medo, sem pecado,
fúria acalmada, amálgama,
no corpo, na alma, no coração.

Entrelaçamo-nos opostos em sintonia imediata,
rendo-me, presto culto à tua divindade,
dividido em dois, em três, em quantos mais
até o dia em que nosso amor acasalado
explodirá sem casca, em gozo, em paz.

E dentro de nós só haverá nós dois.

11/10/2007



12. Um pouco de auto-estima e desejo de seguir em frente, de vencer barreiras.

DE PASSAGEM
Parem tudo, por favor:
parem as guerras,
parem as discussões,
parem as vozes confusas,
parem tudo.

Estou passando.

15/11/07



13. Um poema adolescente de um homem nos seus trinta anos. E quem disse que o amor é um sentimento de pessoas maduras?


A PRIMEIRA VEZ
Pudico,
atento ao olhar.
Tímido
com as mãos trêmulas
nas tuas.

Ah,
nunca esquecerei
a primeira vez que te beijei!...

20/11/2007



14. Muitos têm a sua vida desrespeitada em seus direitos básicos...


EXCLUSÃO
Sou fragmento.
Excremento.
Vários e ninguém.
Muitos e nenhum.

Sou feto.
Aborto.
Folhas secas
sem destino.
Coração
em silêncio.

Sou o grito
da alma.
O medo
do claro.
A companhia
solitária.

Sentença.
Culpado.
Sem defesa.
Sem direito.
Morto.

12/03/2008



15. Silvana... Ah! Sempre Silvana!


ESTADO DE GRAÇA
Quero-te
como o cego quer a vista.
Quero-te
sedento, por toda a vida.

Quero-te
com a alma renovada,
o coração mutilado,
a razão despetalada.

Quero-te,
perfume do meu jardim.
Quero-te,
minha flor, meu jasmim.

Na alvorada, ao pôr-do-sol,
uma eternidade apreciada pela janela.
Ao teu lado, mais que perfeita,
a tua beleza com simplicidade se esmera.

Sonhar assim é tão real,
profundo como o teu olhar,
encantador como o teu sorriso
que se faz sem mistérios, ao luar.

Quero-te
até ao fim.
Quero-te
em mim.

Quero-te
bem assim:
inteira, bela,
meu querubim.

Quero-te
na plena saudade,
no descuido do sol,
em liberdade.

Agora, no instante que vem
e nunca mais será,
na essência
que sempre vai germinar.

És musa e deusa que me enlouquece.
Desperto, meu corpo transcende
à tua voz, ao teu perfume de mulher.
A alma, em estado de graça, consente.

15/05/2008




16. O amor me veio como num milagre, como uma rosa que brotou num terreno seco. Logo para mim, um ex- niilista do amor.

CAMINHADA
Ferir-se
quando o amor deveria ser solução,
quando ainda deveria haver salvação.

Seguir,
por mais difícil que seja,
por mais que os pés cansados
pensem em desistir.

Longo caminho,
longa espera,
sonhos atrofiados na alma.

Carente de tudo,
até mesmo de mim,
iludido pelos espinhos da roseira...
Mas cadê a rosa?

Já pensando em morrer,
resignado do mundo,
nasceu a mais bela rosa
que agora cuido com carinho
e jamais quero perder.

Sou mais que feliz
E, após longos trinta anos,
experimento o que sequer imaginei
ser ao menos possível existir.

O amor me veio como o sol
num dia cinza e triste
E agora mora em minha vida,
em eternas tardes azuis
e noites de lua cheia.

Se a rosa tem um nome
não é segredo,
pode ser Redenção,
mas prefiro chamá-la
Perfeição.
15/05/2008


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