Andam pelos cantos farejando restos, implorando pelo que lhes deveria ser garantido por direito.
Sofrem resignados. Não têm mais nome nem dignidade. Vivem do acaso.
Pior: já nos acostumamos com isso, estamos com os corações endurecidos. A miséria e o sofrimento alheios nos causam indiferença. Para muitos causa asco, repugnância.
Tudo parece tão normal, comum, corriqueiro, sem importância...
É o fim do mundo, infelizmente. O início de um novo mundo egoísta.
DESTITUÍDOS
Antes era o nada.
Agora o nada nem mais existe.
Em mim pouco menos que o vazio
e o desejo ignoto de ser parte de um todo,
parte da humanidade,
parte dos cacos,
parte de nada.
Amanhã, talvez,
renasçam sonhos,
esperanças,
expectativas,
sociedades e filantropia.
Mas hoje só existe o aborto que é a vida,
o terrível engano de existir,
a tragédia dos doentes,
a farsa dos poderosos,
os cães e as crianças que farejam lixo.
Pessimismo é a palavra que me traduz hoje.
E com o pessimismo a vontade de nunca mais existir,
de regredir ao útero e descansar.
Ser sombra e não ser notado,
espectro doentio e ignóbil
no silêncio do porvir,
na quimera morta,
na irressurreiçao dos mortos.
Cega-me com as trevas;
emudece-me com as palavras soltas e bastardas;
promove meu declínio, minha falta de paz;
escraviza-me, mutila-me para sempre.
Estarei feliz assim.
(12/03/2008)
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