segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pensando sobre o tempo

Gosto de pensar e escrever sobre o tempo.

O tempo é um ser sem rosto, sem forma, mas parece racional. Sim, parece ser de propósito o que ele nos faz: a sensação de saudade, de perda (de pessoas queridas, da juventude, de algo que parecia ser eterno), de dor que ele nos causa não parece coisa de quem não sabe o que está fazendo.




Sou uma pessoa muito nostálgica. Não é raro ver-me pensando em um tempo distante, num acontecimento remoto, num sonho que não realizei, numa notícia que me fez feliz (ou infeliz), nas vezes que sorri e que chorei. Nunca me esquecerei dos passeios com meus pais e minha irmã ao cinema e ao teatro, do show da Legião Urbana que fui em 1994, do dia em que fui com meu pai ver o jogo do meu Fluminense no Maracanã (com sete anos, bandeira em punho), das vezes em que errei e que acertei...

As lembranças multiplicam-se na minha mente...

O tempo é algoz, muitas vezes machuca o coração, mas também aprendi (aprendo) muito com ele. A maturidade é inevitável e só se torna possível com o tempo. Olhar para trás e pensar em tudo o que fiz me faz ver que não perdi tanto assim. Ganhei muito também.

O mais importante é caminhar; cada um faz o tempo do seu jeito. Ficar parado é se conformar com a vida como está, é resignar-se quando a situação exige de nós uma mudança.

O tempo, na verdade, só existe por causa de cada um. O tempo precisa de mim, de você, de todos nós. Nós fazemos o tempo. Os imprevistos podem mudar planos, levar pessoas, desviar projetos, mas é nosso dever tentar construir, semear, colher, tirar de cada situação um aprendizado.

Deus lá sabe o que acontecerá; infelizmente (ou felizmente) não nos foi dado o dom de saber do futuro. Resta-nos avaliar o ontem, trabalhar o hoje e preparar o amanhã, ainda que tudo seja incerto.


DESABRIGO
No tempo sinto a calma.
Na prece a Deus almejo o infinito.
Na solidão da alma, o silêncio.

Nas voltas e revoltas, o porvir.
Nas idas e vindas, o regredir.
Nos ideais, o coração.

Em mim, tua presença
embora ausente,
o abrigo insuficiente.

E no destino que traçamos
a verdadeira arte
é tão-somente viver.
(2006)

DEVANEANDO...
Tantos momentos vividos,
tantos dias passados,
tantos sonhos esquecidos.

Ainda assim olhares cruzados,
alguns destinos traçados,
algumas vidas abandonadas.

E no fundo de mim,
algo chamado amor,
inconseqüência da paixão.

Sono infundado,
despedidas amargas,
desejos incontidos.

E perto do fim
o início de mim,
regresso da alma.
(2006)

COISAS DO TEMPO
Tem tempo que o tempo passa
por aqui.

Tem tempo que o tempo me deixa
com um aperto no peito
e com um nó na garganta.

Tem tempo que o tempo é promíscuo
assim como o vento que venta
onde quer.

E tem tempo que o tempo se vai
e me deixa ficar
sem nada me falar.

Ah, são coisas do tempo!...
(2006)

PENSANDO SOBRE O TEMPO...
Às vezes parece que o tempo
vem com o vento,
e tem vez que o tempo
fecha com a chuva
de passagem.

Há tempo de ser criança,
de soltar pipa pelo ar
(pedaços de cores diversas
enfeitando o céu de verão)
como os sonhos que a gente sonha...

Há tempo para se ter tempo
e para se desperdiçar à toa;
há tempo que o tempo não passa
e se fica nervoso por nada.

Às vezes o tempo voa
e nem se vê passar...
Às vezes o tempo é um desenho
feito de nuvem
que a gente tenta adivinhar.

E sempre é tempo de aproveitar o tempo
vivendo intensamente
e até morrendo por amor...
(2006)

FORA DO TEMPO
Acordo disperso,
discreto,
ansioso por nada.

Sinto que o tempo
não faz parte de mim.

Tenho um dia particular.
(28/01/2007)


ÀS VEZES
Às vezes bate em mim uma dúvida do que já fiz até hoje.
Não sei se tudo valeu a pena, se tudo o que me aconteceu
me ajudou a caminhar e, mesmo nos tropeços,
algo de positivo pôde me fazer acreditar em dias floridos,
em manhãs de sol, em pessoas que ficaram do meu lado
quando mais eu senti medo.

Minhas memórias da infância permanecem.
Às vezes me sinto ainda criança
preso a um passado que nunca mais voltará.

Às vezes sinto vontade de chorar,
nem sei bem por quê.
Às vezes olho para trás e não sinto saudade de nada,
embora tenha perdido minha juventude
e deixado de fazer tanta coisa

e agora o que eu tenha de realmente meu sejam minhas dúvidas

e a certeza pragmática de que preciso continuar caminhando,
ainda que eu não saiba o caminho que devo seguir.

Somos todos errantes nessa vida.
Somos insensatos e às vezes tão contraditórios,
um pouco levianos e apáticos diante da realidade.
Essa parece ser a única verdade que encontrei.


Não quero dizer mais nada por enquanto.
Quero apenas ficar aqui a olhar pela janela
dos destinos sem nome que se movem à minha frente
sem controle remoto algum.

Tudo é como num filme contemporâneo
com suas possibilidades e a leveza da alma próprias daqueles
que desejam viver a qualquer custo, custe o que custar,
e são de carne, osso e sentimentos, ainda que não saibam
ou não encontrem um sentido sensato para se estar vivo.
(06/02/2007)


NOVO AMANHECER
Estou disposto a viver hoje,
desarmar os erros do passado
e a melancolia juvenil que até hoje me perseguem.

Vou clarear a minha casa, a minha mente,
deixar o vento levar embora lembranças e nostalgias.
Vou ler mais livros e esquecer coisas supérfluas
que nada acrescentam à minha vida.

Quero andar descalço no quintal,
aproveitar os dias de sol com meus amigos,
ouvir música em dias tristes e solitários.

Não quero mais deixar para amanhã
tudo o que eu tenho que fazer.
Quero fazer tudo agora,
quero dizer “eu te amo”
sempre que eu olhar no fundo dos teus olhos.

Sei que serei bem mais feliz
quando me renovar a cada dia, a cada instante,
e assim perceber que a minha vida não se passou em vão.
(06/02/2007)

ETERNA
Passa o tempo,
fica o amor,
caem as pétalas.

Ciclo da vida.

Vêm os sonhos,
vão as saudades,
estou completo.

Estás em mim.

Murcham as flores,
cicatrizam as dores,
renovo-me em ti.

És a primavera eterna.
(22/05/2007)

QUEBRADO
Espero amanhecer
para consertar o meu coração;
olho-me no espelho
e vejo a alma enrugada,
envelhecida pelos anos
e pelo meu olhar triste.

O tempo é algoz.
(08/08/2007)

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